Na semana do Dia Internacional da Mulher, elas atacaram. Escondendo os rostos com lencinhos fashion, as militantes sem-terra da Via Campesina depredaram o Ministério da Agricultura, destruíram um canavial e barbarizaram num porto da Aracruz, onde inutilizaram fardos de celulose já prontos para a exportação. Por baixo, deixaram um prejuízo de US$ 2 milhões.
Entre as baderneiras, havia estudantes, ongueiras e sociólogas, mas era difícil encontrar uma agricultora que soubesse diferenciar uma semente de milho de um grão de trigo. Sem revelar a identidade, líderes do movimento atacaram o modelo brasileiro de agronegócio, que favoreceria os exportadores multinacionais, em detrimento da segurança alimentar. Deixando de lado o fato de o Brasil ser um dos países com maior excedente de alimentos do mundo e de terem invadido empresas nacionais, elas atingiram seus objetivos.
Ganharam espaço na mídia e não tiveram sequer de depor numa delegacia. Voltaram tranquilamente para suas casas, nas cidades, onde puderam jantar em paz a boa comidinha plantada por verdadeiros agricultores.

Mas o que é a Via Campesina? Criada em 1993, na Bélgica, a organização nasceu financiada por ONGs internacionais, de países que defendem subsídios agrícolas e se sentem ameaçados pela competitividade rural brasileira. Ao longo dos anos, o principal porta-voz da Via Campesina foi o francês José Bové, um baixinho bigodudo, herói dos militantes antiglobalização, que seria uma mistura de Asterix e Obelix. Durante alguns anos, Bové participou diretamente das ações da sua organização. Na França, ele atacou uma loja do McDonald’s, na cidade de Millau, e destruiu plantações de lavouras transgênicas, em Montepellier. Mas lá não lhe deram moleza. Ele foi condenado à prisão e teve de passar mais de dez meses atrás das grades. Encarcerado, tentou posar de herói, dizendo que seria o primeiro preso político a disputar eleições presidenciais na França. Em 2007, os eleitores franceses, que o veem majoritariamente como um fanfarrão, não lhe deram mais de 1,5% dos votos.

Mas se as mãos desse Asterix moderno ficaram atadas na Gália, ele atua livremente no Brasil com seu exército internacional feminino. Aqui, a Via Campesina parece contar com uma espécie de salvo-conduto para cometer atos de vandalismo. Afinal, elas são mulheres, frágeis, e defendem uma causa aparentemente social. Além do mais, podem entrar no Ministério da Agricultura, quebrando tudo o que encontram pela frente, sem que ocorra a qualquer autoridade uma providência básica: discar 190 e chamar a polícia.