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O parlamento catalão aprovou nesta quarta-feira (28) com 68 votos a favor, 55 contra e nove abstenções o decreto de proteção dos animais, que implica a proibição das touradas na próspera região do nordeste da Espanha, a partir de 2012.

O parlamento regional catalão decidiu dessa maneira aprovar uma Iniciativa Legislativa Popular (ILP) apresentada em dezembro passado pelos opositores das touradas, que consideram essa prática uma barbárie, convertendo-se na segunda região espanhola a proibir sua realização depois das Ilhas Canárias, em 1991.

Depois que os deputados conservadores do Partido Popular (PP, oposição) e do grupo Ciutadans anunciaram seu voto contra a proibição das touradas, a principal incógnita se centrava no que fariam os legisladores do Partido Socialista da Catalunha (PSC) e os nacionalistas da Convergencia i Unió, aos quais os partidos deram liberdade de voto.

Por fim, a maioria optou por proibir as touradas na Catalunha, o que representa um duro golpe para os amantes da prática, que também foi afetada pela crise econômica da Espanha.

Os admiradores das touradas defendiam uma tradição cultural enquanto que os adversários reclamavam o fim da tortura contra os animais. "As touradas são um espetáculo da tortura", afirmou o porta-voz do grupo verde Iniciativa Per Catalunya-Els Verds (ICV-EUIA), Francesc Pané.

Comemoração

Para a organização AnimaNaturalis trata-se de um primeiro passo para a abolição das touradas em todo o mundo. "O caminho está traçado e continuaremos avançando também na América Latina em nosso objetivo: um mundo onde a cultura se fundamenta no respeito, compaixão e empatia, deixando muito longe a crueldade e o sofrimento dos mais fracos", afirmou o diretor internacional da entidade, o chileno Francisco Vásquez.

A atriz francesa Brigitte Bardot, famosa por sua defesa dos direitos dos animais, comemorou a decisão. "É uma vitória da democracia sobre os lobbies taurinos. Uma vitória da dignidade sobre a crueldade. A tourada é de um sadismo incrível. Já não estamos nos jogos circenses e é necessário pôr um fim imediato a esta tortura animal", afirmou em um comunicado.

Simpatizantes e opositores estavam mobilizados desde terça-feira, aguardando a disputa que prometia ser acirrada. Esta virou uma "questão política" na região, onde os defensores da permanência das touradas denunciavam "a ideia é extinguir tudo o que for espanhol", conforme afirmou na terça-feira o editorial do diário madrileno El Mundo.

Votação

Esse foi um tema recorrente nos últimos dias na imprensa conservadora, que via na possível proibição uma vontade de revanche dos políticos catalães, depois de uma recente decisão do Tribunal Constitucional que retirou certos aspectos do estatuto de autonomia da região.

A liberdade de voto foi dada especialmente aos 37 parlamentares socialistas pelo presidente regional socialista José Montilla, já que um voto socialista contra a proibição, inicialmente, poderia sem dúvida garantir uma rejeição da ILP.

Mas os opositores à "corrida", cada vez mais numerosos na Catalunha e apoiados por poderosas organizações internacionais de defesa dos animais, relembram que esta tradição está perdendo força na região, onde apenas a Praça Monumental de Barcelona continua a organizar touradas.

A votação aconteceu num contexto complicado para o setor "taurino" na Espanha, que gera cerca de 40 mil empregos e bilhões de euros por ano, e que vem sentindo efeitos negativos desde 2009 por causa da crise econômica.

Tradição

Inúmeras regiões espanholas, inclusive Madri, anunciaram, assim que se iniciou o debate catalão, suas intenções de inscrever a tourada como "patrimônio cultural", com o objetivo de proteger a tradição. Ainda assim, os contra ganham espaço.

É preciso defender a liberdade de escolha e essa "paixão comum" cultural franco-espanhola, que "ninguém tem o direito de proibir", afirmou na terça-feira ao jornal La Razon o toureiro francês Jean-Baptiste Jalabert.