FANTASIA O ecstasy é usado em raves do Red Light. No iDoser, basta um fone

Tudo parece uma grande brincadeira. A pessoa entra em um site, vira um personagem gráfico animado – ou avatar -, começa a navegar por um ambiente 3D, divertese em uma rave e, então, surge alguém oferecendo um comprimido de ecstasy.

Usada em baladas da vida real, a pílula tem uma versão digital que é liberada entre os internautas cadastrados no tal site, o americano Red Light Center.

"Drogas no mundo virtual fornecem aos usuários um meio seguro de participar de uma cena contracultural. Decidimos permiti-las ao percebermos que isso poderia ser divertido", explica Brian Shuster, o chefe executivo da comunidade que só aceita adultos.

As drogas estão disponíveis em cafés virtuais ou são distribuídas por hostess em festas do Red Light, um concorrente atrevido do Second Life: as pessoas não precisam usar roupas. Por ser liberal, o site lançou no Ano Novo uma experiência alucinógena. Segundo Shuster, a estratégia funcionou. "Os usuários amam isso. Dizem que as drogas dão mais efeito do que poderiam supor. Com nosso ecstasy, os avatares ganham bastões brilhantes e movimentos de dança para a noite inteira."

Mas a pílula não é o único aditivo, como Shuster salienta. "Só ecstasy?! Que tipo de festa você acha que temos?", ri. O Red Light tem maconha e cogumelos. Os dois são gratuitos. Já o ecstasy é oferecido para quem é VIP, condição que custa US$ 20 por mês. Cerca de 30 mil usuários dos 250 mil já provaram as drogas. Até maio havia cinco mil brasileiros no site, só que esse número cresce rapidamente.

Para o psiquiatra Içami Tiba, autor do livro Juventude & drogas: anjos caídos, esses produtos não são inofensivos.

"Eles podem despertar um mecanismo químico que leva ao vício. A droga virtual abre caminhos para o cérebro desejar o que existe de verdade", afirma.

Nos consultórios, já há relatos de adolescentes que fazem os dois tipos de "viagem". Pelo lado da fantasia, outro recurso utilizado é um programa que simula os efeitos de maconha, cocaína e ópio. O site iDoser vende arquivos sonoros que interagem com processos cerebrais para relaxar o usuário. Para isso, a pessoa tem de pagar pelas doses (R$ 6 por arquivo) e colocar um fone de ouvido conectado ao computador. "O estímulo mexe com a imaginação. Não custa muito para a pessoa sair do virtual para o real. Como proibir esses sites não adianta, é melhor informar ao usuário qual é o risco", conclui o psiquiatra.

O PERIGO DO NOVO ECSTASY
Nas baladas européias, a onda é uma pílula feita com uma substância usada em vermífugos, a piperazina. Conhecido também como BZP, Legal E ou Euphoria, o comprimido não é ilegal e vem sendo consumido como substituto do ecstasy. Seus efeitos se parecem aos da anfetamina. Os usuários dizem sentir a energia subir pelo corpo. Originalmente, o ingrediente é vendido como pó. Mas em boates e clubes noturnos o "novo ecstasy" é apresentado em forma de pílula. Como seu uso se alastra, os médicos fazem alertas. Recentemente, a revista científica The Lancet trouxe artigo em que relata sete casos de jovens que pararam na emergência de um hospital em Londres após consumir o estimulante. Eles tiveram tontura, vômito, taquicardia e reações alérgicas. A droga também pode causar ansiedade, insônia e até levar à morte. Agora, as autoridades sanitárias estudam meios de controlar a venda do BZP.