DE OLHO O deputado Olímpio Gomes, major da reserva da PM, quer CPI para apurar corrupção policial na jogatina

Na matemática da polícia paulista, as máquinas de caçaníqueis chegam à incrível marca de 300 mil espalhadas pelo Estado e alimentam um esquema criminoso que movimenta mais de R$ 18 milhões por mês, apenas com a distribuição de propinas. Trata-se de uma cifra surpreendente que só veio à tona por causa de um banal acidente de trânsito envolvendo o carro do advogado Jamil Chokr. Ele é defensor dos donos de casas de bingos e em seu automóvel foram encontradas peças de caça-níqueis, relatórios de pagamentos e R$ 27 mil em envelopes destinados a 29 distritos e delegacias seccionais de São Paulo. Um verdadeiro mapa da corrupção, que dias depois era comprovada em telefonemas grampeados oficialmente pela Polícia Federal.

ISTOÉ teve acesso a um relatório elaborado por policiais civis e entregue à Assembléia Legislativa denunciando como funcionaria o esquema de distribuição das propinas. Segundo essas denúncias, o elo mais baixo da cadeia da corrupção é formado por investigadores. São conhecidos como “recolhe” e desempenham o papel de “marqueteiros” das delegacias cooptadas pelos bingueiros. São eles também que ficam responsáveis pelo que chamam de “captação dos clientes” – ou seja, quando não são procurados, fazem a oferta para os donos dos bingos – e pela arrecadação da propina. “A presença do ‘recolhe’ é indispensável e é ele que corre o maior risco de ser preso”, revela um dos autores do relatório. O “recolhe” entrega o dinheiro arrecadado ao “emissário”, que leva os envelopes aos chefes dos investigadores das seccionais.

A maior parte do dinheiro fica com o delegado titular. Outra parte, menor, vai para o delegado assistente e outra igual retorna para o “recolhe”. O relatório entregue aos deputados identifica o advogado Chokr como um dos muitos emissários que atuam no Estado. Nas investigações ainda preliminares feitas pelos deputados Vanderlei Siraque (PT) e Major Olímpio Gomes (PV), a campeã em arrecadação de propina é a 1ª delegacia seccional, no centro da capital. Por ali passariam cerca de R$ 1 milhão a cada 30 dias.

O relatório esmiúça o esquema em detalhes: segundo o documento com mais de dez páginas impressas, o dono do bingo paga R$ 10 ao investigador pelo selo que permite a utilização do caça-níquel e R$ 50 para ter a permissão de uso sobre cada máquina. Os policiais também faturam sobre cada cartela de bingo. Nos cálculos de Major Olímpio, deputado e oficial da Polícia Militar, um delegado titular que participa da rede criminosa e permanece por dois anos numa das delegacias mais visadas pode se considerar um homem rico. Cada máquina de caça-níquel gera para cada delegado envolvido cerca de R$ 350 por semana. Porém, como são milhares de máquinas, o faturamento é altíssimo. As máquinas são previamente programadas e oferecem uma possibilidade de apenas 5% a 10% para o jogador. O documento entregue aos parlamentares mostra uma outra faceta pouco conhecida, mas não menos lucrativa. Durante operações de apreensão dos caça-níqueis, os policiais retiram três estruturas básicas das máquinas – o roteiro, a placa de jogo e o chicote. Sem isso, as máquinas jamais funcionariam. O problema é que o material apreendido acaba sendo vendido a outros bingos, de outras regiões. Estima-se que cada conjunto dessas peças seja comercializado por R$ 650. Material para ser investigado não falta. Os deputados, no entanto, temem que as apurações feitas pela Corregedoria da Polícia acabem atingindo apenas os “recolhes”.

R$ 18 milhões por mês é o valor total da propina dividida entre delegados e policiais no Estado
R$ 300 mil é o número total de caça-níqueis no Estado de São Paulo
R$ 60 é a taxa mensal que os proprietários de caça-níqueis devem pagar aos policiais para cada equipamento
R$ 1 milhão por mês é o valor arrecadado em propina por apenas uma seccional em São Paulo