ROBERTO CASTRO

CONSENSO? Ele queria que a filha Roseana fosse para o lugar de Renan Calheiros, mas o DEM não quis. Mas eles não se opõem a Sarney

A dupla de senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) atua de maneira afinada desde o início do segundo mandato do presidente Lula. Os dois senadores acabaram se tornando os interlocutores privilegiados do PMDB junto ao Palácio do Planalto e fizeram de um partido tradicionalmente dividido a principal base de sustentação do Executivo no Congresso. E é exatamente por isso que a solução para a crise política que tem Calheiros em seu epicentro passa necessariamente por Sarney. Seja para buscar uma alternativa cada vez mais difícil de manter o Renan na presidência do Senado, seja para sucedê-lo em caso de renúncia ou cassação.

O regimento do Senado define que, caso o presidente renuncie, o vice, Tião Viana (PT-AC), tem de convocar novas eleições num prazo máximo de cinco dias. A idéia de quem trabalha com a possibilidade de uma solução Sarney é, a partir dela, repetir no Senado o acordo que possibilitou a vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) como presidente da Câmara. Ali, o PMDB apoiou o petista Chinaglia e, em troca, o PT assumiu o compromisso de eleger um peemedebista como o próximo presidente da Câmara. O acerto, agora, definiria o seguinte: o PT elegeria Sarney e, em troca, o PMDB ajudaria a tornar um petista, provavelmente Tião Viana, o presidente do Senado daqui a um ano e meio.

Por que Sarney? Porque, no entender dos senadores, ele seria um dos poucos nomes capazes de agregar votos tanto entre os governistas quanto na oposição. Na primeira triagem feita por aqueles que já articulam a sucessão de Renan, o critério era encontrar dentro do PMDB figuras que tivessem estatura política e experiência para comandar o Senado, mas que, ao mesmo tempo, fossem aliadas do governo. Esse critério excluía nomes como Pedro Simon (RS) ou Jarbas Vasconcelos (PE). As hipóteses possíveis viravam, então, Sarney e sua filha, a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (MA).

A alternativa Roseana, no entanto, começou a ser bombardeada na oposição, principalmente no DEM. Roseana foi eleita pelo PFL e deixou o partido num processo traumático. Como alguém que acabou de entrar no PMDB, ela teria problemas para se viabilizar também em seu próprio partido. Assim, a solução foi confluindo para Sarney pai. "Ele é um homem respeitado e experiente, mas ainda é muito prematuro falar de nomes para o Senado, uma vez que as investigações ainda estão em curso e Renan ainda é o nosso presidente", pondera o senador Delcídio Amaral (PT-MS). "Fala-se mesmo em Sarney, mas eu estou com vontade de lançar publicamente o senador Pedro Simon como candidato", provocou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Independente, Simon age como um verdadeiro franco-atirador, batendo forte no governo Lula e fustigando até seus pares peemedebistas, como Renan, a quem sugeriu que renunciasse.

Há, porém, outras articulações em curso. Alguns petistas estimulam que a solução se dê com o senador Gerson Camata (PMDB-ES), ex-governador do Espírito Santo. Camata não é um governista convicto, mas também não chega a ser oposicionista. O que esse grupo no PT imagina é que, num acordo com ele, Camata presidiria o Senado como aliado do governo. Ao mesmo tempo, o grupo governista do PMDB, que sempre teve Renan e Sarney como os principais líderes, ficaria enfraquecido. E isso faria com que o PT voltasse a ser hegemônico no governo. Esse é um momento em que a oposição se vê com poucas chances de incomodar. O líder do DEM, José Agripino (RN), chegou a disputar com Renan a Presidência do Senado e acabou derrotado. Na quinta-feira 21, diante das insinuações de que pregava a renúncia de Renan de olho na possibilidade de vir a substituí-lo, Agripino declarou: "Para desfazer qualquer maledicência, declaro desde já que não serei candidato."

"Ele é respeitado e experiente, mas ainda é prematuro falar de nomes para o Senado"
DELCÍDIO AMARAL Senador PT-MS