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NA JUSTIÇA Castroneves na corte de Miami: ele pagou US$ 10 milhões de fiança

Contornar uma curva a 300 km/h tornou-se uma manobra tão natural para Helio Castroneves quanto dar a partida em um carro. Provou isso no circuito de Indianápolis, palco da prova mais importante do automobilismo americano, nas duas vezes em que venceu, em 2001 e 2002. Fama e fortuna vieram na sequência dessas e de outras conquistas do piloto brasileiro nascido em Ribeirão Preto (SP), que, ano passado, fechou a temporada da IndyCar com o vicecampeonato. Castroneves, atualmente, não guia tão rápido. Todos os dias, ele sai de sua mansão, em Coral Gables, em Miami, e dirige o carro sem nenhuma pressa até a corte do Estado da Flórida.

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Lá, desde o início do mês, assiste ao próprio julgamento, que deverá ter um veredicto em, no máximo, quatro semanas. Sentado e calado na maior parte do tempo, Castroneves, 33 anos, vira espectador dos advogados que tentam inocentá-lo das acusações de sonegação fiscal (entre 1999 e 2004) e formação de quadrilha para fraudar impostos nos Estados Unidos (entre 2000 e 2002). No total, são sete crimes, que podem colocá-lo atrás das grades por até 35 anos.

Ao final do dia, quando volta para casa, ele encontra a família. Pai, mãe, avó, irmã, cunhado e sobrinha de sete meses se mudaram para lá desde que o piloto foi denunciado pela Justiça, em outubro passado. "Está parecendo a grande família", disse Castroneves à amiga Marina Lima, em referência ao seriado de tevê.

Marina, que trabalhou para o brasileiro por seis anos, não falava com ele havia um ano e surpreendeu-se com a ligação no fim de fevereiro. Do outro lado da linha, no viva-voz, estavam o piloto e sua irmã, Katiúcia, que também está sendo julgada pelos mesmos crimes. "Demonstravam altoastral. Ele está preocupado, mas confiante na sua inocência", conta Marina. "Ele tem lido muito, chora, reza e se exercita com um personal trainer, já pensando em voltar a correr."

Piloto da Penske, Castroneves será substituído por um colega nas duas primeiras provas da temporada e só não retornará ao volante do carro de número 3 se for condenado. "O Helinho tem frequentado os treinos da equipe e não está recluso em casa. Ele joga tênis no condomínio, sai para jantar", conta o empresário André Duek, 36 anos. Ex-piloto, ele conhece Castroneves desde os 15 anos, quando correram juntos na Fórmula 3 sul-americana. Os dois se falaram pela última vez há um mês. "Ele estava tranquilo. Uma frase dele, que demonstra não ter se abatido, me marcou: ‘Vamos que vamos!’"

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CELEBRIDADE A fama veio com a vitória no programa Dançando com as estrelas da tevê americana

No mesmo tribunal de onde sairá o veredicto do brasileiro o ator Wesley Snipes foi condenado, no ano passado, a três anos de prisão por sonegação. Castroneves já se acostumou com o assédio da imprensa americana no local, que faz plantão aguardando a chegada de famosos. O piloto se transformou em celebridade ao vencer, em 2007, o programa da rede ABC Dancing with the stars (Dançando com as estrelas). Sua parceira de dança, Julianne Hough foi apontada como o pivô do rompimento do noivado de seis anos com a joalheira americana Aliette Vazquez. No entanto, é uma bela colombiana que mora em Nova York, namorada de Castroneves há um ano, quem lhe dá apoio nessa fase difícil.

No dia em que foi denunciado, em outubro de 2008, Castroneves foi algemado e, chorando, chegou à corte com correntes nos tornozelos. Pagou US$ 10 milhões de fiança e pôde aguardar o julgamento em liberdade. Conhecido como homem- aranha, por comemorar as vitórias pendurado em alambrados dos autódromos, o brasileiro sabe que a Justiça americana costuma ser rigorosa em casos semelhantes aos seus. Castroneves, a irmã Katiúcia e o advogado Alan Miller são acusados de usar offshores (empresas em paraísos fiscais) para esconder US$ 5 milhões dos US$ 6 milhões que o piloto recebeu da Penske por três temporadas.

Em outro crime, o brasileiro e a irmã respondem por sonegar US$ 2,5 milhões em impostos durante seis anos. "Pessoas ricas quando acusadas de não pagar impostos não são muito bem-vistas perante júris em casos de crimes fiscais", diz o advogado John M. Peterson Jr., do escritório Baker & McKenzie, da Califórnia. "É importante se comportar bem na frente do júri. Anos atrás, quando Leona Helmsley (magnata do ramo de hotelaria incriminada por sonegação) foi citada por ter dito ao júri que só pessoas comuns pagam impostos, ela foi condenada e presa."

Um júri formado por 12 cidadãos americanos decidirá o futuro do brasileiro cuja defesa tenta aliviar a pena alegando que o pai dele, Helio Phydias de Castro Neves, seria o dono das offshores. "É uma tentativa de tirar o foro dos Estados Unidos, que não seria competente para julgar o pai por ele não ter residência fixa naquele país", diz um advogado. Se for condenado, o juiz decidirá em alguns dias a pena. Nesse intervalo, Castroneves terá de pagar o imposto devido mais multa e acréscimos.

O Ministério Público Federal colaborou com a Justiça dos Estados Unidos investigando irregularidades no contrato de Castroneves com a Coimex, uma empresa capixaba de importação e exportação. A promotora da República Anamara Osório Silva, responsável pela cooperação, esteve em Miami e acompanhou parte do julgamento. As autoridades americanas revelaram a ela um fato que pode fazer o brasileiro tirar o pé do acelerador mais ainda: "Por não ter cidadania americana, o Helio corre o risco de ser deportado para o Brasil, após cumprir a pena." E nunca mais pisar no país que lhe deu fama e fortuna.