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A artista americana Laurie Anderson, 61 anos, é uma das mais influentes cantoras e compositoras de sua geração. Na década de 1960 ela já criava instrumentos de percussão, desenhava os seus violinos e também era engajada politicamente – continua a ser e já declarou que apóia Barack Obama para a presidência dos EUA. Ela se apresenta nos próximos dias 2 e 3, em Porto Alegre, e nos dias 5 e 6, em São Paulo. Na terçafeira 26 concedeu de Buenos Aires uma entrevista por telefone à ISTOÉ:

ISTOÉ – Uma canção do seu novo CD critica o fato de as pessoas buscarem especialistas para entenderem os problemas mundiais. O que a sra. quer dizer com isso?
Laurie –
Os indivíduos agem como crianças e precisam receber orientações para tudo. Seria bom se pensassem um pouco por eles próprios. Essa dependência coloca o poder nas mãos de poucos.

ISTOÉ – O que pensa sobre a mídia?
Laurie –
As empresas de comunicação precisam vender sua mercadoria. E por isso parece que tudo tem de ser leve e a realidade não é sempre assim. Há gracinhas demais no noticiário.

ISTOÉ – A sra. já declarou que votará em Barack Obama e disse que fazer críticas ao atual governo é mais difícil que no passado. Por quê?
Laurie –
Há na sociedade americana uma intolerância muito grande às críticas ao governo e à guerra.

ISTOÉ – As pessoas a intitulam como a rainha do pop experimental dos anos 80. Como é isso?
Laurie –
Rainha? Sinto-me lisonjeada. Mas prefiro o título de presidente, não me agrada a monarquia.

ISTOÉ – Quando a sra. começou a trabalhar com tecnologia e criar aparelhos musicais não existia nem o fax. Como foi isso?
Laurie –
Eu sempre me diverti criando instrumentos e geringonças. Desenho os meus violinos e escolho a sonoridade que desejo que eles produzam. É mais estimulante que computadores e a parafernália virtual.

ISTOÉ – A sra. passou algum tempo na Nasa como “artista visitante”?
Laurie –
Sim. E fiz uma descoberta: cientistas e artistas são muito parecidos, nenhum deles sabe exatamente o que procura.

ISTOÉ – A sra. e Mr. Reed (cantor e compositor americano) se casaram.
Laurie –
Sim. Eu falava com Lou Reed sobre o que nunca fizera na vida e uma delas era me casar. E ele disse: vamos nos casar amanhã? E assim foi. É diferente quando nos casamos com alguém que conhecemos tão bem quanto nós mesmos. É assim entre mim e Lou.

ISTOÉ – Ouvindo a sua música From the air vem à mente a tragédia de 11 de setembro. A sra. fez essa associação?
Laurie –
Sim. Quando a compus estávamos em guerra e eu me referia aos helicópteros de resgate destruídos no deserto. Na música usei a palavra aviões. É estranho. Impossível não associar ao que veio depois.

ISTOÉ – Como foi gravar com a cantora Marisa Monte (a música Someone else’s dream)?
Laurie –
Ela é uma cantora maravilhosa.

ISTOÉ – Quando a sra. esteve no Brasil, voou de asa-delta. Que tal?
Laurie –
Estava no hotel e vi pela janela uma asa-delta voando. Fiquei fascinada e providenciei um vôo para mim. Espero voar de novo nesta ida ao Brasil.