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Grupos de balé costumam chegar à excelência depois de anos de prática e aprendizado. Mas uma companhia está suprimindo etapas e já recebe "bravos" da platéia. É assim que nasceu a São Paulo Companhia de Dança, o primeiro corpo de baile idealizado e mantido pelo Estado paulista e que pretende estar para a dança assim como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) funciona para a música. Trata-se de uma realidade que já existe no Rio de Janeiro, Amazonas e Rio Grande do Sul. O projeto começou a dar os seus primeiros passos em janeiro deste ano, depois que o governo aprovou o orçamento de R$ 13 milhões anuais. O desafio seguinte era transformar as diretrizes que ainda estavam no papel numa verdadeira companhia, e fazer isso em tempo recorde, já que se planejava estrear em seis meses. Era preciso ter um espaço para os trabalhos: o escolhido foi a Oficina Cultural Oswald de Andrade.

O segundo movimento, primordial, foi convocar uma audição de bailarinos, o que aconteceu em fevereiro, e 40 profissionais de todo o Brasil foram selecionados entre os mais de 800 inscritos. "Começamos os trabalhos do zero. Colocamos piso nas salas de ensaio e contratamos os primeiros bailarinos", diz a diretora da companhia Iracity Cardoso, que esteve durante anos à frente do Balé de Genebra. No mês de março os espaços físicos foram adaptados para receber a trupe e em abril iniciaram-se os ensaios sob a coordenação do coreógrafo italiano Alessio Silvestrin, contratado para criar um repertório para a companhia. Batizada de Polígono, a coreografia foi elaborada a partir da peça barroca Oferenda musical, do compositor alemão Johann Sebastian Bach, composta no século XVII, que recebeu sonoridades contemporâneas graças ao trabalho de músicos belgas. O resultado também aparece na performance dos bailarinos que combinam movimentos clássicos com contemporâneos. "É uma fusão. Faço algumas piruetas clássicas e depois sigo caminhando casualmente", diz o paranaense Ed Louzardo, 23 anos, que nasceu numa comunidade ribeirinha de Belém, aprendeu a dançar num projeto social da prefeitura e atuou em grupos de dança clássica antes de ser aprovado nos testes para o novo grupo.

Outra bailarina selecionada é a paulista Marcela Zia 27 anos, formada em dança na Alemanha, para onde foi aos 14 anos, integrando posteriormente a Companhia de Ópera de Berlim. Ao voltar ao Brasil, Marcela foi morar no Rio de Janeiro e estudar relações internacionais. Ela já tinha uma carreira na Câmara de Comércio Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro quando soube, com apenas duas semanas de antecedência, que uma companhia paulista estava fazendo audições. "Sentia muita falta da dança, mas não encontrava espaço para atuar. É um privilégio estar aqui e participar desde o início da criação da identidade de uma companhia", diz a bailarina, que há quatro anos não dançava e teve apenas duas semanas para treinar intensamente antes dos testes.

"Começamos o trabalho do zero. Colocamos piso nas salas de ensaio e contratamos os nossos primeiros bailarinos"
Iracity Cardoso, diretora da companhia de dança

 

 

A remuneração dos bailarinos não deixa nada a desejar. O salário é classificado nas categorias um, dois e três – R$ 4,5 mil, R$ 6 mil e R$ 8 mil, respectivamente, dependendo da experiência e formação de cada profissional. Contratados os bailarinos e técnicos, cinco meses de ensaios depois a trupe já se apresentou em cidades do interior paulista e prepara-se para a estréia em São Paulo, na quinta-feira 4, no teatro Sérgio Cardoso. Outros três programas já estão sendo ensaiados pela companhia que, como disse Iracity, não tem tempo a perder. E a receita quem prescreve é o bailarino Louzardo: "É preciso virtuose, técnica apurada e fôlego."