Depois do surgimento de uma nova geração de estilistas e da consolidação das semanas de moda nacionais, o mundo fashion no Brasil começa uma nova etapa em 2008: a da gestão profissional. Na semana passada, o grupo HLCD anunciou a aquisição de quatro importantes marcas (Fause Haten, Cúmplice e Herchcovitch; Alexandre e parte da Clube Chocolate) e a criação de uma holding chamada Identidade Moda (I’M) para gerir as grifes do grupo. Em 2006, eles haviam comprado a Zoomp e a Zapping.

 

“Nossa visão é a fotografia de um guarda- roupa, plural e diverso”, diz o presidente da Zoomp, Vicente Mello, que está à frente do processo. O objetivo é ter 12 marcas até 2009, investindo em segmentos nos quais eles ainda estão ausentes, como moda praia, casual, acessórios e masculina mais tradicional. Corre no mercado que eles estão de olho nas grifes Crawford e Siberian, do grupo Valdac. Segundo Mello, preservar a identidade de cada marca é o mantra que rege a empresa – e a música que seduziu os estilistas donos das grifes.

“Muitas vezes fui procurado por pessoas ou grupos que me ofereceram investimento financeiro, mas isso nunca me interessou”, diz Fause Haten, que começou a negociar com a I’M há seis meses. “Desta vez me propuseram gestão e know-how. Eles trarão profissionais das áreas financeira, produto, varejo, atacado, e eu continuo na direção criativa, que é o que faço hoje e o que sei fazer.” Há sete anos, Fause profissionalizou a grife e contratou um gestor. Alexandre Herchcovitch também continuará respondendo pela criação da Herchcovitch; Alexandre, sua linha principal, da Herchcovitch Jeans, e da Zoomp. O estilista – escolhido uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil neste ano (leia mais à pág. 61) – acredita que o grupo irá injetar um capital que ele levaria décadas para conseguir. De imediato, sua próxima coleção irá contar com 700 itens em vez dos 250 inicialmente previstos.

O mercado brasileiro passa por um processo de consolidação semelhante ao que ocorreu na Europa na década passada. No Brasil, os primeiros negócios começaram a surgir há dois anos. A Rosa Chá foi comprada pela catarinense Marisol; o grupo BR Labels controla a VR Menswear, a Mandi e a Calvin Klein no Brasil; a AMC Têxtil é dona da Colcci e da Carmelitas. No mês passado, a Ellus, de Nelson Alvarenga, passou para as mãos do banco suíço UBS. Eles criaram a holding In Brands, que, em breve, deve anunciar mais aquisições. No mercado, as fichas estão sendo apostadas em Isabela Capeto e Vide Bula.

Europa é o exemplo

Sucessivas aquisições iniciadas nos anos 90 na Europa deram origem a poderosos conglomerados mundiais de moda e artigos de luxo. A mais poderosa das holdings é a francesa LVMH. Fundada em 1987, responde por 60 grifes entre itens de moda, perfumes e bebidas, possui 1.800 lojas e emprega 64 mil funcionários. Sua principal grife é a Louis Vuitton, que há mais de 15 anos registra crescimento na casa dos dois dígitos.

Emilio Pucci, marca ressuscitada pelo conglomerado, quadruplicou de tamanho, e Marc Jacobs, o queridinho das americanas modernas, cresce 20% ao ano. Porém, grifes adquiridas nos últimos anos como Donna Karan, Fendi e Givenchy seguem deficitárias. Outros dois grupos europeus disputam os endinheirados: PPR (Pinault-Printemps- Redoute), da Gucci, Balenciaga, Yves Saint Laurent, e Compagnie Financière Richemont, da Cartier.