As pistas de esqui de Aspen e Vail, pequenos pedaços de paraíso na neve do Colorado, nos Estados Unidos, atraem milhares de turistas brasileiros todos os anos – só ficam atrás dos australianos, britânicos e mexicanos.

A novidade é que agora há uma verdadeira invasão de estudantes brasileiros nessas cidades e eles vão trabalhar legalmente na temporada de esqui. Sobram empregos na região e para resolver o problema o governo americano mantém um programa que permite a universitários estrangeiros ter empregos com visto temporário nessas cidades entre 15 de novembro e 15 de março. “Cerca de 30% das pessoas que trabalham nas montanhas são estrangeiras. E, desse porcentual, metade é de brasileiros”, diz Maurício Albuquerque, da empresa Intercâmbio no Exterior (IE), que nesta temporada mandou 2,2 mil estudantes para os Estados Unidos, dos quais 600 só para as regiões de esqui.

Há vagas em diversos setores, e não só nos serviços diretamente ligados à prática do esporte. A baiana Tereza Gargur, 24 anos, cursou biologia na Universidade Católica de Salvador e procurou uma empresa brasileira que ajuda a conseguir o visto de trabalho e vagas em empresas nos Estados Unidos. Vendedora da loja de roupas Oilily em Aspen, ela já atendeu atores de Hollywood, pois vários deles freqüentam Aspen. “Conheci o Antonio Banderas, ele foi comprar roupas para a filha. Nem acreditei! Ficamos conversando, ele me disse que esteve no Brasil e conheceu o presidente Lula e o jogador Ronaldo. Ele é muito gente boa!”

Ela trabalha 40 horas por semana e ganha US$ 10 por hora, mais comissões. Com isso, consegue tirar por mês cerca de US$ 1,6 mil – ela mora com uma estudante do Paraná, com quem divide o aluguel de US$ 500. Tereza acha que essa é uma grande oportunidade em sua vida. “Eu estava desempregada, aprendendo a cozinhar e lavar roupa. Aqui, além da loja, posso arrumar mais um emprego e ainda um bico como baby-sitter. Muita gente consegue isso. Agora, quero fazer mestrado em genética aqui nos Estados Unidos.”

Estudante de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o carioca Maurício da Silva Ribeiro, 20 anos, trabalha cinco dias por semana armazenando esquis na montanha de Buttermilk, em Aspen, e ganha cerca de US$ 1,6 mil por mês. “Eu adoro o que faço. As pessoas que trabalham comigo são muito legais e todos são americanos, então posso treinar bastante o meu inglês, o que é o objetivo principal da minha viagem.” Maurício partiu apenas com a autorização para trabalhar e conseguiu emprego e casa sozinho, depois de chegar aos Estados Unidos. “Eu vim através de um programa chamado self-placement, no qual você deve arrumar trabalho e moradia por sua conta. Moro com mais seis brasileiros, já conhecia todos antes da viagem, o que tornou a nossa convivência bem mais fácil.”

Quem gosta da experiência quer repeti-la. O catarinense Patrick Matiola, 26 anos, é um dos quatro brasileiros que trabalham como garçom no restaurante Chaps, do Vail Cascade Resort. Ex-estudante de letras, Matiola foi para Vail pela primeira vez no ano passado. Ele se deu tão bem que ganhou prêmio de melhor funcionário e foi chamado pelo próprio hotel para voltar nesta temporada. Ganha US$ 1.000 de salário e até US$ 120 de gorjeta por dia. “Prefiro trabalhar de garçom em Vail do que ser empresário em Florianópolis”, diz ele, que, no Brasil, é dono, com os pais, de uma loja de decoração para festas. “É mais divertido e não trabalho tanto.”

Várias empresas ajudam a conseguir o visto de trabalho temporário, como a Intercâmbio no Exterior e a Intercultural, que enviou 1.700 pessoas aos Estados Unidos nesta temporada. Os requisitos básicos para se candidatar ao programa são idade de 18 a 29 anos, ser universitário de graduação ou pós-graduação e ter inglês intermediário. “As entrevistas são feitas em inglês e avaliamos, principalmente, a vontade do candidato em trabalhar e aprender. Se percebemos que a pessoa quer só passear, há grande chance de ela não ser aprovada”, diz Maurício Albuquerque, da Intercâmbio no Exterior. Segundo ele, os brasileiros ganham exatamente o mesmo que um nativo e são muito bem-vistos. “Os patrões americanos nos consideram trabalhadores, prestativos e calorosos. O pacote da IE para trabalhar nos EUA custa cerca de US$ 2,6 mil, incluindo a passagem de ida e volta.

A sofisticada Aspen e a tranqüila Vail

Aspen é um lugar onde endinheirados e famosos desembarcam à procura de frio e badalação. Lá, as 200 mil pessoas que circulam pela região na alta temporada exibem seus carrões e gastam em lojas de grifes como Prada, Louis Vuitton, Gucci, Ermenegildo Zegna e Fendi. Também há 50 restaurantes de primeira, como o de culinária japonesa Nobu, presente nas melhores cidades do mundo.

Em Vail não há tanta ostentação e gente para ser vista. É uma montanha de 3,5 mil metros de altura, cujo primeiro resort de esqui foi inaugurado em 1962 e ao pé da qual quatro anos depois, a 2,4 mil metros de altitude, nasceu uma charmosa vila. Vail é a maior área para a prática do esporte dos EUA, com 193 pistas por onde passaram 1,6 milhão de visitantes na última temporada.

Desta vez, é esperado um crescimento de 30% no número de turistas do Brasil. Graças ao dólar barato, crescimento semelhante já havia ocorrido na temporada passada. Há uma variedade de pacotes. Um deles é o AA SkiClub, oferecido pela American Airlines a partir de US$ 2.138 por pessoa. Inclui passagem, sete noites em apartamento duplo, aluguel de carro, assistência de viagem e seis dias de ski lift, bilhete que dá acesso aos teleféricos que levam os esquiadores montanha acima.