A história da nobreza correu séculos recheada de traições, filhos ilegítimos e disputas por heranças. Tudo muito distante da atual realidade brasileira. Eis que um barão importado da Suíça conseguiu disseminar em São Paulo, onde mora há 18 anos, um pouco da confusão que acompanha os nobres. O barão Cyril Rudolf Maximilian von Goldschmidt-Rothschild, 57 anos, ganhou os holofotes há duas semanas ao leiloar parte dos bens de sua histórica família, que fundou o Banco Rothschild, na Alemanha. O valor arrecadado em dois dias superou R$ 250 mil. Talvez menos do que ele esperava, mas o suficiente para chamar a atenção de duas ex-namoradas. Elas afirmam que o barão deve meses de pensão alimentícia para os filhos que tiveram com ele. Detalhe: as crianças nasceram com apenas três dias de diferença. Um enredo com o qual até a apresentadora de tevê Márcia Goldschmidt, ex-mulher de Cyril e famosa por mostrar casos enroscados de família em seu programa, teria dificuldade em lidar.

O barão não colocará as mãos facilmente no dinheiro. O montante será depositado em uma conta judicial – e pode ir para a filha de dez anos para quem ele não paga a pensão alimentícia há dois. Um oficial de Justiça bloqueou o dinheiro na noite de 21 de agosto com um mandado de penhora. O advogado Ellis Feigenblatt moveu a ação a pedido de sua cliente, a auxiliar administrativa Maria Clara de Oliveira, 42 anos. Ela é mãe da menina cuja paternidade Cyril reconheceu três meses depois do nascimento. O romance começou em uma praça de alimentação de um shopping, em 1993. Após quatro anos de namoro, Clara ficou grávida. "Ele dizia que era estéril e acabei relaxando", conta. Segundo ela, o barão ficou feliz com a notícia. Porém, ela começou a desconfiar de traição. "Recebia telefonemas de moças o procurando", diz. Ela só teve certeza quando ele contou que uma outra mulher, com quem tinha vivido um "deslize" de uma noite, engravidara. Magoada, mas apaixonada, decidiu continuar com Cyril, que assumiu a paternidade, o pagamento da escola da menina, deu ajuda em dinheiro e um apartamento para mãe e filha morarem.

O que Clara não sabia é que ele saía com Jurema (ela não quer se identifi- car), 40 anos, havia seis meses. "Quando tentei contar para Cyril da minha gravidez, ele começou a falar primeiro e disse que tinha vivido um lance rápido com uma ex-namorada que engravidou. Não tive coragem de dizer naquele momento", lembra Jurema, mãe de um menino também de dez anos. Revelou a novidade dias depois e foi chamada de mentirosa. Para o garoto, o barão não pagava pensão. "Nunca pedi porque não queria ser acusada de ter engravidado para tirar dinheiro dele." Eles voltaram a namorar quando o menino tinha alguns meses. Cyril só o registrou com dois anos. Ficou responsável pelo plano de saúde e eventuais despesas. Após alguns anos, cessaram os depósitos.

Há um ano, Jurema o colocou na Justiça reivindicando o pagamento da pensão, o que ocorreu nos primeiros seis meses. Desde então, deposita o quanto quer. Enquanto Jurema brigava pelo filho, Clara vivia outro drama. Cansada das traições do barão, terminou a relação quando a filha estava com 6 anos. "Mas ele não gostava de ser contrariado. Não aceitou o fim e disse que eu me arrependeria." A resposta de Cyril veio por meio de uma notificação de que elas deveriam desocupar o imóvel – também suspendeu o pagamento da escola da menina. Em março de 2006, o advogado Ellis Feigenblatt obteve uma decisão da Justiça cancelando a desocupação.

Por causa da atitude do pai, o valor da pensão para a menina aumentou. Cyril se recusou a fazer qualquer pagamento e ela recorreu aos tribunais. Não pagar pensão alimentícia dá cadeia.

Ambas as mães afirmam que antes dos problemas com a Justiça Cyril era um pai carinhoso e a cada 15 dias reunia as crianças. "Tudo o que nossa filha pedia, ele fazia", afirma Clara. Na ocasião do leilão, ele afirmou à imprensa que sua atual esposa está grávida da primeira fi- lha. "Me deu uma dor no coração quando li aquilo", diz Clara, chorando. Jurema se revoltou ao ler a informação. "Nunca imaginei que ele pudesse renegar os filhos dessa maneira." As crianças so-frem com a ausência do pai. A menina cai constantemente em tristeza. "Ela fala que se o pai passar de um lado da calçada, vai para o outro", diz Clara. Às vezes, bate saudade, como do ovo quente na casca que só o pai sabe fazer do jeito que ela gosta. O menino de Jurema teve queda de rendimento na escola. "Ele evita falar do assunto. Mas já me perguntou, chorando, por que todo mundo tem pai e ele não tem mais." Tanto Clara quanto Jurema reafirmam que a única coisa que desejam é criar bem seus filhos. ISTOÉ procurou o advogado Valdery Portela, que representa o barão, para se pronunciar sobre o caso. Chegou a marcar um encontro para falar do assunto na quarta-feira 27. Horas depois, o advogado ligou dizendo que o barão desistiu de dar qualquer declaração.