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Das 15 medalhas que o Brasil trouxe para casa, seis foram conquistadas por mulheres. Mais importante do que o número é a quebra de tabus presenciada na China: a seleção de vôlei feminino, por exemplo, se livrou do estigma de Atenas (quando perdeu na semifinal para a Rússia e ficou com a fama de “amarelar”) e Maurren Maggi conseguiu um ouro depois de passar os últimos Jogos suspensa sob a acusação de doping. Dois bronzes, de Natália Falavigna no tae kwon do e da dupla Fernanda Oliveira e Isabel Swan na vela, foram conquistas inéditas para o País na competição esportiva mais importante do planeta e prometem abrir caminho para mais resultados em Londres 2012. Fecham o quadro feminino de medalhas a prata que a equipe de futebol trouxe e o bronze conquistado no judô por Ke-tleyn Quadros.

Nesta Olimpíada de números superlativos, o Brasil enviou a maior delegação já registrada, com 227 atletas. De acordo com o Comitê Olímpico Brasilei-ro, nunca participaram tantas mulheres: 133. E, em Pequim, elas brilharam, como atesta Natália Falavigna. “Hoje, a equipe feminina tem igualdade de condições com a masculina”, diz. “Eu, por exemplo, desta vez tive uma estrutura maior, com profissionais competentes no grupo, e pude sistematizar o treino para ganhar eficiência”, explica. A expectativa é que as coisas só melhorem depois do bronze. “Com mais investimento, estrutura e planejamento, já dá para sonhar com o ouro.” Também no tatame, a judoca Ketleyn Quadros, na categoria leve, conseguiu a primeira medalha brasileira na modalidade para as mulheres, ao derrotar a australiana Maria Pekli. Apesar de ter sido a primeira brasileira a conseguir um lugar no pódio nos esportes individuais, por pouco Ketleyn, nem chega à Olimpíada. Levou a vaga quando a rival, Danielle Zangrado, se machucou antes das competições na Europa, o que prejudicou sua classificação para os Jogos Olímpicos.

Outra medalhista de 2008, Fernanda Oliveira acredita que o bronze conquistado junto com Isabel Swan era o incentivo que faltava para outras atletas abraçarem a vela profissionalmente. “Até a faixa dos 18 anos, tem muita menina no esporte. Mas elas desistem para se dedicar à faculdade, ao namoro”, comenta. Além da motivação de estimular uma nova geração, Fernanda vai aproveitar o momento para comemorar e repor as energias. “Vai ser pelo menos um mês de folga, já que foram quatro anos pensando nesses dez dias de Olimpíada.” Em Londres, Fernanda acredita que a presença de mulheres na modalidade pode ser ainda maior, com talentos como Martine Grael e Daniela Adler, que vêm de famílias com tradição na vela. “Elas têm tido resultados bem expressivos”, afirma.

Em vez de sabor de novidade, o ouro do voleibol feminino foi um prato comido frio – precisamente depois de quatro anos desde a semifinal que deixou o Brasil como bronze, em Atenas. Na Grécia e em Pequim, a equipe foi treinada pelo técnico José Roberto Guimarães, o mesmo que ajudou a trazer o primeiro ouro para o grupo masculino, em Barcelona 1992. Zé Roberto já havia dito que é mais difícil treinar mulheres, por conta de fatores emocionais, como saudade da família, e questões como o ciclo hormonal das atletas. Esse ponto, inclusive, mereceu um trabalho especial voltado à redução da tensão pré-menstrual, até atrasando o ciclo hormonal de algumas esportistas. Tantos cuidados valeram a pena. “A cor da nossa medalha é amarela. Mas é amarelo-ouro”, declarou Zé Roberto, após a conquista. “Falta o Mundial. Não pretendo voltar para os homens não. Vou ficar fiel às mulheres”, afirmou. Evitando comparações entre as seleções feminina e masculina, o técnico anunciou mudanças. “Haverá uma reciclagem e o importante é que a gente ainda fique com uma boa base para o futuro.”

No retorno ao Brasil, não havia o que fizesse a filha de Maurren Maggi, Sophia, de quatro anos, parar de falar com a mãe e brincar com a medalha de ouro pelo salto em distância, durante a primeira entrevista da atleta na volta ao País. “Tenho certeza de que haverá muitas mulheres saltando sete metros. Em breve, seremos uma potência do atletismo”, disse Maurren, que bateu em um centímetro a russa Tatyana Lebedeva, cravou 7m04 e se tornou a primeira brasileira a conseguir uma medalha de ouro numa Olimpíada no atletismo individual. Ela pretende se preparar para Londres, quando estará com 36 anos. Depois de dois anos suspensa por doping, se diz pronta para mais desafios. “Eu gosto de obstáculos, as dificuldades fazem parte”, afirma Maurren, sem conter os sorrisos. Como todas as outras medalhistas.

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