Foi-se o tempo em que as pessoas encolhiam de medo nas poltronas dos cinemas diante do ranger de portas, de sombras sinistras ou do olhar ameaçador de um psicopata qualquer. Acusado de apenas reciclar clichês, na verdade o gênero horror passa por uma crise mais profunda. Não consegue transpor as inquietações da realidade para o universo da arte. Hoje, é a realidade que amedronta as pessoas. Veja o caso de A chave mestra (Skeleton key, Estados Unidos, 2005), em cartaz nacional na sexta-feira 26. O suspense sobrenatural do inglês Iain Softley tinha tudo para causar calafrios. Passada em New Orleans, a história acompanha a trajetória de Caroline (Kate Hudson), uma enfermeira contratada para cuidar de Ben (John Hurt), um velho entrevado numa cadeira de rodas por causa de um derrame.

Ele vive com sua esposa, a mal-humorada Violet (Gena Rowlands), num casarão do século passado rodeado de árvores centenárias, cobertas de musgos, cuja vizinhança são os canais e pântanos do Mississippi. Acontece que Caroline, como qualquer heroína de terror, é muito, muito curiosa. Basta ela ganhar a tal chave-mestra da casa – ou seja, uma chave que abre qualquer porta – para entrar num quarto proibido e descobrir toda uma parafernália de vodu.

Mandingas – Teimosa, ela decide se iniciar nos segredos da magia negra e desvendar a mudez do velho Ben. No passado, uma trama destas renderia um grande filme. Nas mãos de Softley, o resultado chega a provocar risadas. Mas, além de ensinar algumas mandingas, a diferença entre vodu e hudu e trazer uma sucessão matadora de blues e cantos religiosos, o filme não é ruim. É que o mundo lá fora anda bem mais horripilante.


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