A festa do Peão de Boiadeiro de Barretos começou há 50 anos sob uma modesta lona de circo, em que ocorriam pequenos rodeios e apresentação de grupos folclóricos. Seus fundadores, que se auto-intitulavam Os Independentes, eram homens orgulhosamente solteiros acomodados num clube do bolinha. A festa cresceu. No lugar da lona há uma grandiosa arena projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, palco das atrações do megaevento country que reúne em 18 dias – termina no domingo 28 – mais de um milhão de visitantes e movimenta R$ 200 milhões em negócios. Com o tempo, os ideais exclusivamente masculinos se esvaíram e deram espaço para uma irrevogável participação feminina.

As mulheres estão por toda parte e não podem, e não querem, ser confundidas apenas com as tais Marias-breteiras, personagens da novela América que representam garotas que se esfalfam pelo amor de um peão. Breteira é uma referência aos bretes, espaço onde os animais são preparados para a montaria. Mas mulher nos bretes, apenas as meninas que competem em provas como a dos três tambores, que devem ser contornados em disparada. Giovanna Balbo, 24 anos, é uma das concorrentes.Ela coloca sua criatividade a serviço dos detalhes. Combina a cor da camisa – que ela mesma desenha e manda confeccionar – com a caneleira do cavalo em que vai montar. “Quero estudar design de interiores e ainda criar minha própria marca de roupas. Eu faço e todo mundo copia!”, diz a garota que lança a moda nas arenas.

A tal prova dos três tambores chegou a ser reformulada para impedir que Keyla Polizello, 19 anos, ganhasse todos os prêmios. Ela levava vantagem por ser muito leve, com seus 1,54 m de altura e 48 quilos. Hoje, o peso da cela e das competidoras deve somar, no mínimo, 65 quilos. Mas as medidas de Keyla não ajudavam só nas competições. Ela foi capa da revista Playboy no mês de julho passado, certamente com um polpudo cachê. Montar é um esporte caro – gastam-se todo mês em média R$ 2 mil por cavalo, e é bom que se tenha pelo menos dois animais. Quem não pode pagar trabalha no rodeio para montar de graça. É o caso da paranaense Neiva dos Santos, 34 anos, separada e mãe de três filhos, que, quando não está no controle das porteiras dos bretes trabalhando como segurança, está em cima de touro competindo com os marmanjos. Chegou a competir mesmo com duas costelas fraturadas. “Gosto do risco”, afirma.

E não é só mulher que monta em touro que sofre. Ana Angélica Nogueira de Oliveira, 26 anos, esposa do peão Felício Serafim de Oliveira, 30, disse que já estava acostumada a ver o marido agarrado a um touro bravo e que problema mesmo são suas ausências, entre tantas viagens. Sobre a ameaça das Marias-breteiras, fazia pouco. “Todo lugar tem, mas não é como se mostra.” Quando o locutor anunciou que Felício seria o próximo a entrar na arena, as mãos de Ana começaram a tremer. Ela olha para baixo, faz uma pequena oração e entrega: “É uma adrenalina enorme, não dá para controlar.” Sempre que pode, ela também leva os dois filhos do casal – Pollyanna, 7 anos, e Víctor, de apenas um ano – para ver o pai na arena