Aos dois meses de vida, André Brasil começou a perder os movimentos das pernas. Um mês depois, foi diagnosticado com poliomielite, enfermidade que provoca perda temporária ou definitiva dos movimentos da perna. O que parecia o fim de uma vida agitada, no entanto, era apenas o começo. Vinte e um anos se passaram e André é hoje uma das maiores promessas do esporte paraolímpico brasileiro. Mais novo contratado do Circuito Loterias Caixa Brasil – disputa que tem como objetivo qualificar nossos atletas para as paraolimpíadas de Pequim, em 2008, e ajudá-los a superar as 33 medalhas conquistadas, no ano passado, em Atenas –, acaba de voltar a bater o recorde mundial na prova de 100 metros livre de natação. “Bater o recorde em casa foi mais saboroso”, comemorava o atleta, referindo-se à presença dos pais na torcida do estádio Célio de Barros, no Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro.

Difícil medir qual o maior sorriso:
se o de André ou o de sua mãe, a
enfermeira carioca Tânia Brasil,
45 anos. “Assim que tivemos a
confirmação da poliomielite,
começamos os tratamentos na
Associação Brasileira Beneficente
de Reabilitação (ABBR). Vários médicos
disseram que ele não poderia andar. Agora estamos muito felizes, os recordes foram inesperados, mas tudo é fruto de sua determinação e disciplina”, orgulha-se
Tânia, ao lado do marido, o técnico de
telefonia Carlos Roberto Esteves, 53 anos. “Precisamos de um babador, estamos exultantes”, completou a enfermeira.

Acompanhar uma disputa paraolímpica é uma experiência que foge ao convencional. São paraplégicos em cadeiras de rodas, pessoas com os braços e pernas – muitas vezes substituídos por próteses mecânicas – mutilados, vítimas de síndrome de Down, cegos e outras com óculos fundo de garrafa. Talvez seja um dos momentos em que eles se sintam iguais em suas diferenças. No caso de André Brasil, a seqüela da perna esquerda é imperceptível sob a calça comprida. Ele circula entre os atletas com um misto de solidariedade e glória.

Mãe viúva – Nessa profusão de sensações, o estádio Célio de Barros foi palco de mais emoção na corrida de 150 metros rasos, no sábado 13, quando o atleta gaúcho André Garcia, 24 anos (16 graus de miopia), empatou com o americano Royal Mitchell. A competição foi eletrizante. Os dois já haviam se encontrado em Atenas, onde o paratleta brasileiro levou medalhas de ouro e prata na categoria P 13 (baixa visão) e Mitchell, da mesma categoria, ganhou ouro. “Passei anos correndo atrás da bola até que, aos 15, procurei um técnico de atletismo que notou a grossura dos meus óculos e me apresentou a corrida paraolímpica”, lembra. Foi uma sucessão de vitórias e agora seu sonho é dar estabilidade à mãe viúva e aos dois irmãos menores. “Passamos muita dificuldade. Quero continuar a me superar”, planeja Garcia.

O Circuito Loterias Caixa Brasil, promovido pela Caixa Econômica, é disputado
em seis etapas, com a participação de atletas de todo o País. As Loterias
da Caixa investem R$ 3,4 milhões no setor paraolímpico, além de R$ 7,3
milhões já repassados via Lei Piva, que determina o repasse de 2% do prêmio
das loterias federais do País aos comitês Olímpico Brasileiro (85%) e
Paraolímpico Brasileiro (15%).