Após um jogo do time inglês Manchester United, a marcação equivocada de um impedimento deixou um fã inconformado. Estudante de ciência da computação, o britânico Jonathan Dunne criou uma etiqueta eletrônica para ser colada na bola e no corpo dos atletas a fim de monitorá-los em campo. Os sensores avisariam em tempo real o lance a ser marcado pelo juiz. Caberia ao bandeirinha confirmar ou não a informação. Nem bem o projeto conseguiu patrocínio e o que era para ser solução virou problema.

Criada em 1907, a regra do impedimento até hoje gera polêmica, serve de assunto nas mesas de bar e de consolo para os desiludidos torcedores do futebol arte. “Muitas vezes, a torcida se agarra à desculpa do impedimento para justificar a
falha do time”, diz Dimba, atacante do São Caetano que, no sábado 6, marcou
um gol contra o Corinthians. No jogo que terminou 2 a 0, o árbitro Anselmo da Costa não percebeu que Dimba estava impedido. A regra é clara: o impedimento deve
ser marcado quando, ao ser lançada a bola, o jogador está à frente do penúltimo homem do time adversário. “Não é fácil marcar. As mulheres são melhores porque se concentram mais e percebem com maior rapidez quando houve o impedimento”, explica Arnaldo César Coelho, que foi juiz por 30 anos e há 16 é comentarista esportivo da Rede Globo.

Graças a esses deslizes, na semana passada 635 árbitros levaram um notável “puxão de orelha” de Armando Marques, presidente da comissão de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Marques falou sobre regras como a do impedimento e das faltas, especialmente o jogo brusco grave, o popular carrinho. E cobrou mais atenção dos árbitros em campo.

Por tradição, um lance duvidoso como o impedimento pode render horas, ou até semanas de discussão em rodas de amigos. A marcação das etiquetas eletrônicas coladas nos atletas seria transmitida por sinal de rádio, evitando paralisar o jogo. Substituto do código de barras, o chip já é usado para localizar cabeças de gado e livros nas bibliotecas, mas deve se popularizar nos supermercados, onde elimina o trabalho de tirar as compras do carrinho para pagá-las.

“Assim, o futebol vai perder o glamour. A discussão faz parte do jogo”, reclama o atacante Dimba. “Imagine a confusão: o sensor identifica os jogadores em posição de impedimento, mas nem todos participam da jogada. Não daria certo”, diz a bandeirinha Ana Paula Oliveira, que atuou nas Olimpíadas da Grécia e reconhece erros passados na marcação de impedimentos. Para Arnaldo César Coelho, a tecnologia em campo deve ser vetada. “O futebol é jogado por humanos e deve ser controlado por eles. Quanto mais simples, melhor. Mudo de nome se a Fifa adotar isso”, diz.