Que interesse teria o secretário de Estado americano, o poderoso Donald Rumsfeld, em fazer uma visita relâmpago, de 24 horas, a um país como o Paraguai, que hoje em dia nem sequer tem Forças Armadas dignas desse nome? Embora tenha se recusado a dar maiores explicações, o falcão mais vistoso da administração George W. Bush deixou escapar em Assunção que a Casa Branca vê “evidências de que tanto Cuba como a Venezuela estão envolvidas na situação na Bolívia de uma forma que não é mera ajuda”. Funcionários graduados do Pentágono explicaram que o principal motivo do pouso-surpresa do secretário em Assunção foi trocar informações com o governo paraguaio sobre as atividades da Venezuela e, através dela, de Cuba, na região.

A visita de Rumsfeld atiçou as especulações de que os Estados Unidos estariam firmemente empenhados em instalar uma base militar no Paraguai, supostamente para monitorar a luta contra o narcotráfico e o terrorismo, principalmente na Tríplice Fronteira (Foz do Iguaçu/Iguazú/Ciudad del Este). Há tempos, essa região tem sido apontada por estrategistas americanos como foco de apoio ao terrorismo islâmico no Cone Sul, em razão da grande quantidade de árabes ali radicados, que supostamente teriam ligações com o Hizbolá (Partido de Deus) libanês.

As especulações sobre a instalação da base militar no país vizinho surgiram em maio deste ano, quando o Congresso paraguaio aprovou, quase na surdina, uma lei concedendo imunidade às tropas americanas para operar, armadas, em qualquer ponto do território. Ao mesmo tempo, os legisladores aprovaram a realização de cerca de 13 missões bilaterais, num programa de exercícios militares conjuntos e treinamento antiterrorista que envolve, até dezembro de 2006, a participação de cerca de 400 soldados americanos no Paraguai.

Como Rumsfeld deixou claro, o Pentágono hoje está mais preocupado com o protagonismo de Hugo Chávez na região do que com a Tríplice Fronteira. O alarme soou em junho, depois que uma rebelião popular na Bolívia derrubou o segundo presidente em menos de dois anos e obrigou o Congresso a aprovar uma lei de hidrocarburetos contrária aos interesses econômicos estrangeiros. Os EUA temem que a situação na Bolívia se agrave ainda mais se o candidato da esquerda Evo Morales for eleito presidente nas eleições de dezembro. Menos por ele ser de esquerda, mas mais porque Washington está convencido de que o líder cocaleiro recebe apoio financeiro de Chávez.