A vegetação exuberante e as temperaturas amenas da serra de Nova Friburgo, a 120 quilômetros do Rio de Janeiro, acalmam os ânimos. Mas o ameno estado de espírito é instigado pelos sensuais outdoors de moda íntima, com lânguidas mulheres só de sutiã. Os cartazes preparam os visitantes para o Pólo de Moda Íntima, uma bem-sucedida experiência de Arranjo Produtivo Local (APL), com mais de 900 empresas de lingerie – 55% delas informais – na região de Nova Friburgo, Bom Jardim, Cordeiro e Cantagalo. A Feira de Moda Íntima (Fevest), que acaba de acontecer, testemunha o sucesso da parceria empresarial, com R$ 26 milhões em negócios, R$ 8 milhões a mais que em 2004. O faturamento anual é de R$ 600 milhões.

A iniciativa do Pólo lidera o mercado de trabalho da região: são mais de 20 mil empregos e 25% da produção nacional. Nada mal para quem vivia a reboque da indústria metal mecânica, que ainda mantém a liderança em faturamento. “Nosso objetivo é estimular a exportação”, explica Amin Mazloum, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário. Em 2004 foram exportados US$ 4,5 milhões.

Tudo começou com pequenas experiências familiares, como de Lucy Layola, ex-funcionária da Fábrica de Filó, do grupo Triumph. Ela se demitiu em 1978 para acompanhar de perto quatro filhos pequenos. Comprou uma máquina de costura com o Fundo de Garantia e começou a fazer calcinhas. O negócio prosperou, comprou uma segunda máquina e contratou uma auxiliar. O marido, demitido em 1982 durante uma crise do setor têxtil, foi ajudar a mulher. Os filhos, já crescidos, entraram no negócio. A fábrica Lucitex, hoje, tem 150 funcionários e produção de 1,5 milhão de peças anuais. “A história de minha mãe se repetiu em outras famílias”, conta Neucileia Layola, 33 anos.

Erotismo – Outra experiência de sucesso é a do arquiteto Mahmoud Mazloum, 43 anos. Filho de libaneses, ele morou nos Estados Unidos e ao voltar ao Brasil, em 1998, percebeu um vácuo no mercado: a moda erótica. Cinco anos depois de abrir uma pequena empresa foi à feira de Dubai, no Oriente Médio. Teve surpresas ao superar a barreira cultural, que parecia intransponível, e deixou a cidade com uma penca de pedidos. “As mulheres de lá ainda usam a burca, mas por baixo dela são tão liberais e ousadas quanto as brasileiras”, assegura.

Os resultados só foram possíveis graças às parcerias e à criação do Conselho de Moda, em 2003, que discute estratégias e adota uma linha comum às empresas. O Pólo foi criado em 1997 a partir de estudos entre as várias entidades locais, governo do Estado, prefeituras e bancos oficiais.