Ex-homem forte do então prefeito de Ribeirão Preto e hoje ministro da Fazenda, Antônio Palocci, o advogado Rogério Buratti é uma figura polêmica, com negócios polêmicos que o jogam no olho do furacão de denúncias que movimentam a CPI dos Bingos e inquéritos que o envolvem diretamente com a máfia do lixo. Mas Buratti não parou por aí. Desta vez ele aumentou seu currículo com acusações de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e destruição de provas, que culminaram com sua prisão na quarta-feira 17.

Buratti chegou sorridente e tranqüilo à Delegacia Seccional da Polícia Civil, em Ribeirão Preto, para depor sobre sua participação nas fraudes em licitações para os serviços de coleta de lixo e limpeza urbana nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. E de lá saiu algemado e cabisbaixo para o Centro de Detenção Provisória. No final de suas declarações, promotores do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) cumpriram o mandado de prisão temporária, decretado em inquérito aberto também na quarta-feira, que apura compra de fazendas e empresas de ônibus. Interceptações telefônicas, com ordem judicial, apontaram para o risco de destruição de documentos. Pelo mesmo motivo, foi preso o corretor de imóveis Claudinet Mauad.

Buratti surgiu de forma suspeita nos telefonemas de Mauad, que estão sendo monitorados desde o início do mês. Mas foi só nos últimos dias que surgiram provas de que a integridade de documentos estaria sendo ameaçada pela dupla. Na segunda-feira 15, foi apreendida uma série deles na casa de Mauad. Esses papéis apontavam que Buratti adquiriu três fazendas nos últimos dois anos e mais recentemente comprou duas empresas de ônibus, a Expresso Fadel, em Rancharia e Presidente Venceslau. Segundo promotores, a primeira fazenda, em Ituverava, foi adquirida por R$ 280 mil. Mais tarde foi trocada por outra, em Pedregulho, no valor de R$ 600 mil e finalmente negociada por uma terceira área em Buritizeiro, já com valor de R$ 1,2 milhão. Na última transação, que contou com a participação de Mauad, a fazenda foi trocada pelas empresas de ônibus no valor de R$ 2,6 milhão. Os promotores suspeitam que todos os valores foram superfaturados.

As interceptações comprometem Buratti. Na segunda-feira, ao se ver rodeado de policiais, Mauad ligou para o advogado pedindo orientação: “Doutor, está cheio de policial aqui na minha casa. O que eu faço? Buratti não titubeou: “Corre lá e destrói tudo.” Em outro telefonema, o corretor informou: “Não deu tempo e os homens pegaram tudo.” A reação desesperada de Buratti veio em seguida: “Nossa, minha nossa…” Para o promotor Aroldo Costa Filho não há dúvida de lavagem de dinheiro envolvendo diretamente o advogado. “Numa empresa de ônibus é muito mais fácil conseguir dinheiro e fazer contratos do que em uma fazenda, e para fiscalizar é mais difícil, pois não tem nada legalizado”, disse Costa Filho. O Gaerco apura ainda a participação de mais gente no esquema. Foi essa suspeita que deu fundamento ao pedido de prisão temporária por formação de quadrilha. Buratti chegou a informar, no momento da prisão, que ainda tem uma fazenda em Buritizeiro e que as empresas de ônibus não estão em seu nome. Ele aceitou, na quinta-feira 18, o mecanismo de delação premiada para ter reduzidas suas penas e manifestou interesse de prestar novo depoimento à CPI dos Bingos.

Meteórico – Rogério Buratti chegou a Ribeirão Preto em 1992, num fusquinha, para coordenar a campanha de Antônio Palocci. Hoje, seu patrimônio pode ultrapassar a casa dos R$ 3 milhões. Antes de trabalhar com Palocci, ele, que veio de Osasco, foi assessor dos deputados José Dirceu e João Paulo Cunha. Em Ribeirão Preto, foi secretário de Governo do prefeito Palocci entre 1993 e 1994, mas foi exonerado após ser flagrado num grampo feito por ele mesmo cobrando propina de um empreiteiro local. Fora da prefeitura criou a Assessoarte Serviços Especializados, que atuava na área de reorganização administrativa e concursos públicos. Buratti atuou na empresa Leão Leão, na qual chegou à vice-presidência. O grupo detém os contratos de limpeza pública de Ribeirão Preto e de mais nove cidades do interior paulista e foi o maior doador da campanha do prefeito Palocci em 2000.

Apesar de cair em desgraça – além da máfia do lixo teria tentado, ao lado de Waldomiro Diniz, extorquir R$ 6 milhões da empresa Gtech para renovar contrato com a Caixa Econômica –, não perdeu os amigos. Os grampos mostram que ele manteve contatos com o atual ministro Palocci, como o registrado em fevereiro do ano passado, em telefonema para a casa do ministro em Brasília. Entre os números mais discados, o primeiro da lista é o de Jeany Mary Corner, apontada como organizadora das festas com garotas de programa patrocinadas por Marcos Valério. O terceiro da lista é o celular de Juscelino Dourado, chefe de gabinete de Palocci.