Os números do Ibope mostram que o presidente Lula encolheu. Tanto na intenção de votos quanto na avaliação de seu governo. A crise atingiu em cheio o ocupante da principal cadeira do Planalto. Há um mês, Lula só disputaria um segundo turno com o candidato tucano José Serra. Hoje, se quiser tentar a reeleição nas urnas, terá que encarar um segundo turno em todas as simulações feitas pelo instituto, que alterna nomes do PSDB e a presença de um candidato do PFL. A intenção de voto em Lula, que antes variava de 36% a 39%, minguou. Está entre 31% e 34%, o que aumenta as chances de a oposição não só levar Lula ao segundo turno, mas vencer a disputa. O Ibope entrevistou entre 13 e 17 de agosto 2.002 eleitores em 143 municípios do País. O estudo tem uma margem de erro de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra.

Na disputa pela reeleição em segundo turno, o melhor desempenho de Lula
(47%) é registrado contra Fernando Henrique Cardoso (31%). O único candidato capaz de vencer Lula é o prefeito de São Paulo, José Serra, que terá sérias dificuldades em deixar o cargo para se lançar na disputa. Ele afirmou inúmeras
vezes que não faria da prefeitura um trampolim para o Planalto. A pesquisa registra, em segundo turno, um empate técnico de 41%, com 14% de votos brancos e nulos
e 4% de indecisos. Por regiões, Lula ganha no Nordeste (48% a 43%), Norte/Centro-Oeste (46% a 31%), mas perde de Serra no Sudeste (42 a 36%) e no Sul (42% a 36%). O presidente Lula também perdeu votos para o tucano em todas as faixas de renda, principalmente na classe média.

Em declive – No primeiro turno, Lula ainda sai na frente, conforme apontam os números do Ibope. Mas a diferença para o segundo colocado diminuiu em todas as simulações. Na que se apresentam como candidatos José Serra, Garotinho, Heloísa Helena e Cesar Maia, por exemplo, o presidente perdeu 5 pontos em um mês – tinha 36% e hoje aparece com 31% – e os adversários subiram de 1 a 3 pontos porcentuais. O que mais levou vantagem no embate foi José Serra, que passou de 22% para 25%.

No caso de o PT não ter candidato ou optar pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e o nome do PSDB ser o do governador Geraldo Alckmin, quem sai na frente, lidera e vence as simulações em primeiro e segundo turnos é o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB). Ele ganharia do governador paulista em segundo turno com uma diferença de 6 pontos porcentuais (38% a 32%). Somados, os votos bancos, nulos e de indecisos totalizariam 29%. Garotinho só não leva vantagem sobre Alckmin – que na quinta-feira 18 tornou pública sua intenção de ser o candidato do PSDB – na região Sudeste, onde perde por uma diferença de 17 pontos (45% a 28%).

O eleitorado que prefere o candidato do PMDB no Planalto está concentrado
nas faixas dos que ganham até um salário mínimo e dos que recebem mais
de um até dois salários mínimos. Mesmo perdendo para Lula no segundo turno, Anthony Garotinho turbinou seus índices. Em julho perderia a disputa por 52% a
27%. Hoje, o ex-governador obteria 31% da preferência do eleitor, contra 45% de Lula. Em primeiro turno, com Antônio Palocci pelo PT, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), e a senadora Heloísa Helena pelo PSOL, Garotinho venceria Alckmin por
26% a 20%. Num cenário sem a presença de Cesar Maia, o ex-governador do Rio ganha 2 pontos e vai a 28%. Quanto a Lula, o melhor desempenho do presidente
no primeiro turno é registrado num cenário em que disputam a eleição Cesar Maia, Fernando Henrique Cardoso, Garotinho e Heloísa Helena. Lula obtém 34% da preferência do eleitorado. Se comparado ao mesmo cenário projetado pelo Ibope
há um mês, Lula caiu 7 pontos porcentuais.

Mas não é só na intenção de votos junto ao eleitor que Lula sofre arranhões. A aprovação a seu modo de governar caiu de 54% para 46% e o índice de desaprovação subiu, em um mês, de 38% para 47%. O mesmo foi registrado pelo Ibope ao mensurar a evolução da avaliação da administração do presidente. No quesito ótimo/bom, Lula teve uma queda de 7 pontos, passando de 36% para 29%. Esses pontos migraram para o item ruim/péssimo, que pulou de 24% no mês de julho para 31%. No regular, houve uma oscilação de 2 pontos, caindo de 40% para 38%.

Efeitos da crise – A crise política que se agrava e arrasta figuras ilustres do governo petista no tsunami de denúncias de corrupção também atinge o dia-a-dia dos brasileiros. Apesar de 66% dos entrevistados afirmarem que se sentem muito satisfeitos/satisfeitos com a vida que vêm levando hoje, 32% optaram pelo inverso (insatisfeito/muito insatisfeito). Estando o maior porcentual de muito insatisfeitos/insatisfeitos entre os que ganham até um e os que ganham de um a dois salários mínimos.

Os números mostram que Lula, se quiser disputar a reeleição, terá de reverter os efeitos da crise que implodiu a alma de seu governo e reconquistar a confiança do eleitor que surfou na onda vermelha, sem ter muita afinidade com o PT. A tendência do eleitor hoje, segundo analistas políticos, é não ousar, como fez no pleito que levou Lula à Presidência, e sim voltar a vestir a camisa da precaução e do conservadorismo, uma forte característica do eleitorado brasileiro.