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O nascimento da ovelha Dolly, primeiro animal clonado do planeta, em 1996, é considerado um dos maiores marcos da ciência. Gerada no Instituto Roslin, na Escócia, a partir de células somáticas de uma ovelha adulta, ela foi o resultado bem-sucedido de um experimento que não só trouxe novo fôlego à genética como também disseminou a biotecnologia pelo mundo: atualmente são mais de 100 laboratórios distribuídos em diversos países desenvolvendo pesquisas importantes de clonagem de espécies. Nesse terreno, o que vem obtendo dedicação especial e investimentos pesados dos pesquisadores é o emprego dessa técnica na possibilidade de preservação de animais ameaçados de extinção. Mais: tenta-se criar exemplares de espécies que há tempo não mais estão na face da Terra. O Centro de Biologia Celular e Molecular da Índia, por exemplo, está montando um laboratório especializado para isso e o primeiro animal a ser "ressuscitado" será o chitá, felino semelhante ao leopardo e considerado um dos mais velozes do mundo. Extinta na Índia há 50 anos devido às caçadas ocorridas durante a colonização britânica, essa espécie ainda pode ser encontrada no Irã. Para realizar o experimento, Lalji Singh, diretor do instituto, já solicitou ao governo iraniano a doação de algumas células de chitás. Uma guepardo indiana emprestará seu útero para a gestação, ou seja, será uma espécie de "barriga de aluguel". "Propomos a clonagem nos casos em que não é possível a reprodução normal ou assistida", diz Singh.

Essa não é a primeira vez que a clonagem é usada na preservação de animais extintos. O método já ajudou a gerar um gaur, espécie de búfalo selvagem raro na Ásia, mas o filhote morreu dois dias depois do nascimento. Já na Austrália, cientistas da Universidade de Melbourne conseguiram reativar um fragmento de DNA do tigre-da-tasmânia, extinto há mais de 60 anos. O material genético utilizado na pesquisa foi retirado de um tigre morto e empalhado, exposto no museu Victoria, e de outros três filhotes conservados em álcool há 100 anos. Para que fosse possível a observação de sua função biológica, esse DNA foi implantado no embrião de um rato. Resultado: ele voltou a funcionar e conseguiu-se a formação da cartilagem embrionária. De acordo com Andrew Pask, cientista responsável pelo estudo, os registros da pesquisa são importantes pelo fato de nos devolver um conhecimento de funções genéticas que poderia estar perdido com a extinção de algumas espécies.

Também o Brasil ajuda na preservação através da biotecnologia. Desde a década de 1980 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem investindo na conservação de espécies ameaçadas no País. Foi por iniciativa dessa instituição que nasceram Potira e Porã, dois clones de uma vaca junqueira. A raça, que está no Brasil desde o período da colonização, tornou-se uma das grandes preocupações de pesquisadores, já que hoje existem menos de 100 exemplares dela. Todos esses avanços são um fato a comemorar, mas os cientistas alertam que ainda há longo caminho a percorrer até que animais extintos voltem a habitar o planeta. A maior dificuldade é a localização de fragmentos de DNA que ainda continuem intactos e, também, a identificação de animais minimamente compatíveis para servirem de hospedeiros para a gestação. "Não há dúvida, porém, de que esses obstáculos serão vencidos. O que importa é que estamos na direção certa", diz Pask.