Demorou, demorou, demorou, mas, finalmente, o presidente falou à Nação. Em discurso marcado para as nove da manhã de sexta-feira 13, perdão, 12 de agosto,
o presidente, de novo, demorou e, por volta do meio-dia e meia, começou a falar. Depois de pontuar os acertos de seu governo, como o aumento de empregos, o controle da inflação e a balança comercial positiva, ele abordou a crise. E disse
estar consciente de sua gravidade.

Confessou-se traído, “traído por práticas inaceitáveis das quais nunca
tive conhecimento”.

Disse estar indignado, “indignado pelas revelações que aparecem a cada dia
e que chocam o País”. Falou na reforma política: “O Brasil precisa corrigir as distorções do seu sistema partidário eleitoral, fazendo urgentemente a tão
sonhada reforma política.”

No final, desculpou-se: “Queria, neste final, dizer ao povo brasileiro que eu
não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que
pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem
que pedir desculpas.”

A oposição, como se esperava, considerou o discurso ruim. “A peça mais
pífia e mais indigna da história brasileira”, disse Arthur Virgílio, o líder do
PSDB no Senado. Para o líder do PFL, o senador José Agripino, “Lula
continua o autista de sempre”.

A tão esperada manifestação de Lula só veio depois dos ataques de Roberto Jefferson, das complicações de José Dirceu, dos depoimentos de Marcos
Valério, de sua secretária, de Delúbio e de Silvinho, das revelações estarrecedoras de Duda Mendonça, do esfacelamento do PT e, finalmente, das pesquisas que
mostram que hoje ele já perde de Serra em um eventual segundo turno. Ou
seja, seu discurso não foi ruim, mas demorou, demorou, demorou. Demorou
muito para acontecer.