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A corrida eleitoral só começou oficialmente no dia 6 de julho, data a partir da qual o Tribunal Superior Eleitoral permitiu que os partidos fizessem propaganda política. Mas antes disso, apesar do impedimento legal, as campanhas já largaram com um considerável estoque de promessas feitas pelos candidatos. Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) tagarelaram bastante antes do permitido e seguiram na mesma toada de intenções generosas nas semanas seguintes. Atrás da simpatia dos eleitores, eles prometeram mundos e fundos. Se resolverem cumprir todas as propostas que já estão lançadas, é seguro que o Brasil será um país bem diferente: mais rico, justo e atencioso com seus cidadãos.

Impostos, por exemplo. O contribuinte e as empresas devem ter vida mais folgada, pois os três candidatos prometeram uma reforma tributária para valer. Marina disse que tem esse compromisso “firme, sem falsas expectativas”. Serra afirmou que vai baixar as taxas sobre manteiga, pasta e escova de dentes, além de outros produtos da cesta básica. Dilma fará o mesmo nos setores de energia, edificações, exportações e medicamentos. Serra também adiantou que acabará com a cobrança do PIS/Cofins nas empresas de saneamento. Dilma, que vai “reduzir a zero” tributos sobre investimentos e eliminar as cobranças “em cascata”. Esses compromissos foram firmados a partir do mês de março, quando ISTOÉ deu início a um levantamento diário das promessas dos candidatos.

O Brasil vai cobrar menos e oferecer muito mais aos brasileiros, garantiram os candidatos. A economia será estável, com um Banco Central que, além de controlar a inflação, estará comprometido com o desenvolvimento e o emprego. Esta é uma promessa dos três. Aeroportos, portos e estradas ficarão nos trinques. Serra fará isto em parcerias com a iniciativa privada. Na área econômica, o candidato tucano também anunciou preços garantidos para os agricultores, seguro rural farto e defensivos agrícolas “genéricos” para uso em suas lavouras.

Pobres? Muito poucos. E os que teimarem em viver na pobreza estarão sob os braços protetores do governo. Dilma garantiu que exterminará a miséria absoluta ainda nesta década. Também acabará com o déficit habitacional e construirá 1,5 mil creches por ano. Serra, para afastar a suspeição de antipatia para com os programas sociais, disse que dobrará o Bolsa Família. Marina, por sua vez, corrigirá os ganhos dos aposentados pela inflação. Dilma também. E, se ocorrerem catástrofes, ninguém deve ficar muito preocupado: Serra terá instituído uma Defesa Civil nacional para amparar os desabrigados.

Marina propôs um Sistema Único de Educação, a exemplo do similar da Saúde, para melhorar a situação do ensino básico à universidade. E, para qualificar a cultura geral do povo, Serra estenderá para todo o Brasil o programa paulista de 48 horas ininterruptas de programação artística, a Virada Cultural. A área da saúde ganhará nada menos que 10% do orçamento brasileiro, conforme promessa de Marina. E Serra vai entregar remédios em domicílio, sem qualquer custo.

Os três candidatos estão compromissados com uma reforma administrativa que diminuirá o peso da máquina estatal, tornará as repartições públicas modelos de eficiência e irá aniquilar o vício da distribuição de cargos por motivação política ou parentesco. Com eles não haverá nada disso. Mesmo se forem inventados novos ministérios. Serra, por exemplo, sugeriu a criação de mais dois: o Ministério do Deficiente Físico e o da Segurança Pública.

Promessas eleitorais são comuns em qualquer parte do mundo. Por aqui, elas viram um festival graças ao caráter “mais individualista” da política brasileira, acredita o cientista político Bolívar Lamounier. “Na hora do voto, o eleitor não tem em vista o partido, mas a pessoa que se coloca como candidato”, explica. Pelo sistema mais comum na Europa, cada agremiação partidária oferece uma lista de nomes para o eleitor referendar, o que atenuaria, conforme Lamounier, a mania de fazer promessas que os políticos têm. “Já nos Estados Unidos, o voto é distrital. Assim, o candidato se dirige à uma base que já o conhece e a qual ele terá que recorrer novamente. Isto freia a demagogia”, diz o cientista político. Uma mudança nesta área poderia ser importante. O levantamento de ISTOÉ, porém, mostra que os candidatos, desta vez, não prometeram nada: nenhum deles está compromissado com a reforma política.
 

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Colaboraram Fabiana Guedes e Natália Leão