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Se você tiver o hábito de acompanhar críticas de cinema em jornais, revistas e sites, prepare-se para uma chuva de clichês relativos a “Encontro Explosivo”, o blockbuster com Tom Cruise e Cameron Diaz que estreia neste final de semana nos cinemas. Nosso candidato a mais recorrente clichê é aquele que dirá tratar-se de um filme de ação que é visto com prazer, mas que será esquecido no dia seguinte. Até para fugir dessa arapuca estilística que aprisiona vários colegas de profissão, vi o filme numa quarta pela manhã e só escrevi a respeito dois dias depois. Acho que ainda não me esqueci do filme. Vamos ver?

Há um objeto desejado por muitos homens (não é a Cameron), que se dispõem a entrar numa luta de vida e morte para ficar com a coisa. Cruise é um agente responsável por cuidar de um cientista criador do tal objeto – uma fonte de energia do tamanho de um isqueiro Bic, mas que tem capacidade de abastecer uma cidade inteira.

(Antes de prosseguir, um parêntese: o cientista é interpretado por Paul Dano, coadjuvante de luxo em filmes como “Pequena Miss Sunshine”, “Sangue Negro” e “Aconteceu em Woodstock”. Alguém tem de dar um Oscar a este homem e à capacidade que ele tem de se reinventar, muito mais do que meramente interpretar.)

A superpilha desperta o desejo da CIA e a volúpia de um poderoso traficante de armas espanhol. Proteger cientista, a loira e o invento é a tarefa de Cruise. Para tanto, liquida tripulações de avião, faz surfe em tetos de carro e foge de uma manada de touros desenfreados em Sevilha – deveria ser em Pamplona, mas em Hollywood vale tudo. Com a tarimba de quem fez três episódios de “Missão Impossível”, Tom se garante bem. Isso é o que fica na superfície. Sob essa camada, está o que o filme tem de melhor: a força do roteiro, grande responsável por eu ainda me lembrar de tanta coisa 48 horas depois.

Os roteiristas de James Bond tornaram bem complicada a vida de quem quer desenvolver uma identidade ao contar histórias de gente que enfrenta inimigos internacionais e governos terríveis e, no final das contas, fica com a bonitona da hora. “Encontro Explosivo” é exatamente isso. Mas, ao carregar pesadamente na ação – quase tarantiniana, tamanha a violência – e no humor – variado, ora nos diálogos, ora nos absurdos da trama –, o filme acaba encontrando algo além do elenco estelar para lhe dar sobrevida.   

Algumas piadas são brilhantes. O que é ótimo por um lado, mas, por outro, escancara o desnível de “timing” humorístico do casal de protagonistas. Como em “As Panteras”, Cameron Diaz não consegue fazer rir quem não se deixa seduzir por gags apatetadas, com caras e gestos que seriam exagerados até em teatro de colégio. Já Cruise aprendeu muito em 2008, quando contracenou com Ben Stiller, Jack Black e Robert Downey Jr. em “Trovão Tropical”. Hoje ele consegue achar o tempo certo do humor mesmo grudado ao pára-brisa de um carro a mais de 100 km por hora ou ao trocar tiros com bandidos que brotam de tetos e paredes. Em boa medida, isso compensa a falta de graça – no sentido de fazer rir – da sua parceira em “Encontro Explosivo”. Em resumo: Cameron, desencana; Tom, vai nessa.