Mulheres de três gerações refletem em seu dia-a-dia a história recente de Portugal, do salazarismo constrangedor e repressivo aos tempos modernos, passando pelas guerras do colonialismo decadente. Esse é o eixo principal do belo romance Nas tuas mãos, da jornalista portuguesa Inês Pedrosa (Planeta, 224 págs., R$ 35), o qual revela os muitos e intensos conflitos que toda a sociedade lusitana precisou enfrentar. Mas principalmente o sexo feminino, historicamente destinado à eterna espera e à resignação a um mundo onde apenas os homens pareciam nascidos para a ação e a glória.

A primeira mulher da história é Jenny, moça romântica que viveu toda uma vida de mentira em nome do amor e do compromisso social. Dessa relação de aparências, sob as quais se escondem os amores homossexuais do marido, surge a filha Camila, que só tarde demais compreenderá as razões do estranho relacionamento de uma mãe que descobre ter morrido virgem. Seu caminho para a autopurgação passa por uma viagem à conflituosa África colonial, onde encontrará o pai de sua filha, Natália. Ele, um guerrilheiro a quem nunca mais verá, morto na luta sangrenta das diversas facções.

A mulata Natália, formada arquiteta, viverá na pele escura os preconceitos de uma sociedade que não consegue conviver com o peso de um mundo tão diferente de tudo o que lhe foi incrustado por séculos da moral dominante. A narrativa, delicadamente estruturada, se dá por meio do diário de uma, o álbum de outra e as cartas da terceira, modos elegantes e recatados de expor e reforçar uma intimidade que, na rotina diária, nunca conseguiram construir.