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A governadora do Alasca, Sarah Palin, é famosa por seu conservadorismo. Evangélica, mãe de cinco filhos, ela sempre se posicionou contra o aborto, abomina o casamento homossexual e defende com unhas e dentes o direito ao porte de armas de fogo. Aos 44 anos, foi escolhida para concorrer como vice-presidente dos Estados Unidos na chapa liderada por John McCain justamente por essas características, tão palatáveis à base conservadora do Partido Republicano. Sua indicação visa, entre outros objetivos, agradar àqueles que consideram McCain liberal em demasia. Desde que o nome de Sarah ganhou destaque no cenário americano, no entanto, não param de vir à tona relatos sobre seus supostos desvios de conduta. A mais recente acusação, veiculada pelo tablóide National Enquirer, garante que Sarah traiu o marido. As especulações em torno da suposta aventura extraconjugal da governadora acabaram tirando o foco das atenções da filha mais velha de Sarah, Bristol, 17 anos. Solteira, Bristol está grávida de cinco meses do namorado, fato revelado às vésperas da convenção republicana, realizada na semana passada em St. Paul, Minneapolis. Antes da suposta traição e da gravidez adolescente, os boatos giravam em torno do filho mais novo de Sarah, Trig, que nasceu em abril deste ano.

Pela história oficial, com apenas quatro meses da gravidez de Trig, Sarah descobriu que o bebê era portador da síndrome de Down, mas não teve dúvidas sobre ter ou não a criança. O episódio, que reforça sua coerência à posição antiaborto, acabou sendo embaçado por uma série de especulações dando conta de que a mãe do bebê seria, na verdade, Bristol. "As difamações à família Palin têm que parar", reagiu na quinta-feira 4 um dos principais assessores de McCain, Steve Schmidt, assim que o National Enquirer publicou a notícia sobre a suposta traição da governadora. "Os esforços dos meios de comunicação para destruir essa boa e talentosa servidora pública são uma vergonha."

Na véspera, quando ainda não havia sido chamada de adúltera, a própria Sarah havia apontado o dedo contra a imprensa, durante o discurso programado para oficializar que aceitava a nomeação como candidata a vice de McCain. Ao responder às críticas de que não tinha experiência suficiente para almejar o posto de vice, declarouse mais preparada do que o candidato à Presidência do Partido Democrata, Barack Obama, que já atuou como organizador comunitário em Chicago.

Eleita governadora no ano passado, Sarah foi durante dois mandatos prefeita da cidade de Wasilla, de nove mil habitantes, no Alasca. "Eu acho que o prefeito de uma cidade pequena é tipo assim um organizador comunitário, só que com responsabilidades de verdade", disse Sarah antes de voltar suas baterias contra a imprensa. No contraataque, declarou que era considerada pouco qualificada por parte da mídia pelo fato de não fazer parte da elite da capital, Washington. "Mas aqui vai uma dica para os repórteres e colunistas", provocou Sarah. "Eu não vou para Washington para buscar a aprovação de vocês. Eu vou para Washington para servir às pessoas deste país."

No Xcel Energy Center, que serviu de palco para a convenção republicana, as palavras de Sarah provocaram delírio na platéia. Não se sabe, porém, qual será o impacto na campanha das denúncias feitas contra ela. Pelo sim, pelo não, McCain já acionou uma operação de blindagem para proteger sua companheira de chapa. As acusações não se limitam a questões de caráter privado. No Alasca, Sarah está sendo investigada pela suposta pressão que teria exercido sobre o comissário de segurança pública Walt Monegan para que ele demitisse seu ex-cunhado, um policial. Assim que surgiu como candidata a vice, vieram também a público as orientações dadas à bibliotecária pública Mary Ellen Emmons, de Wasilla, para que fossem retirados das estantes livros que considerava "impróprios". Entre os ecologistas, Sarah recebe críticas muito antes da indicação para concorrer a vice. Motivos não faltam: ela já defendeu que o homem não influencia nas mudanças climáticas, se opôs a considerar o urso polar uma espécie protegida e é a favor da exploração de petróleo em uma gigantesca reserva animal do Alasca.

Finalmente, os detratores de Sarah resgataram do passado uma informação que a coloca em reta de colisão com McCain. Quando prefeita, Sarah contratou lobistas para captar recursos para Wasilla, prática que o senador condena. McCain, que surpreendeu ao anunciar sua escolha para vice-presidente, também não se cansa de ser surpreendido por Sarah. Até o fato de ela ter sido Miss Wasilla, explicitado no questionário que respondeu antes de ter seu nome aprovado por McCain, ganhou contornos bizarros na semana passada. É que veio a público uma fotografia tirada na mesma época, na qual ostenta uma camiseta louvando seu "orgulho de seios grandes".