i61088.jpg

A polêmica sobre a criação da nova empresa estatal que administrará as faraônicas reservas de pré-sal do País continua a pegar fogo. Mas enquanto a Petrobras resiste aos neonacionalistas decididos a garantir os direitos da União, o presidente Lula adianta-se, põe mais lenha na fogueira e extrai desde já os fluidos da boa notícia. Embora ciente de que somente a partir de 2010 o Brasil terá condições de explorar comercialmente as reservas da Bacia de Santos, e ainda assim dependendo de investimentos na casa de US$ 1 trilhão, o presidente transformou a sua visita ao navio plataforma P-34, no Campo de Jubarte, no Espírito Santo, numa verdadeira avant-première do festival de petróleo que se aguarda para a próxima década. Em Jubarte, a Petrobras já produz diariamente 35 mil barris acima da camada de sal. Agora, do novo poço na camada de pré-sal, a 4.600 metros de profundidade, promete-se no futuro a extração de mais 18 mil barris por dia. É pouco. Mas como petróleo pega fogo e fogo rende boas imagens, Lula conseguiu promover um espetáculo de marketing. O que interessa mesmo é a enorme potencialidade da Bacia de Santos. Jubarte serviu, no entanto, como palco para um festival de euforia.

Diz a Petrobras que Jubarte servirá de escola para a extração do pré-sal da Bacia de Santos, onde as reservas são estimadas entre cinco e oito bilhões de barris. Em Santos, os poços são bem mais fundos, vão até sete mil metros de profundidade, e a camada de sal tem dois mil metros – contra apenas 250 metros no Espírito Santo. Mas nada disso impediu que o presidente e sua comitiva comemorassem o início da modesta produção como um fato histórico. Com as mãos manchadas de óleo, Lula chegou a comparar o momento atual aos dias de criação da Petrobras. Lembrou que o ex-presidente Getúlio Vargas foi alvo de duras críticas da imprensa. "Jornais importantes brasileiros fizeram editoriais contra, dizendo que o Brasil não tinha que se meter porque era uma área estranha ao nosso querido país", discursou ele.

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que é defensora de uma empresa específica para o pré-sal, entrou no clima de festa, foi carimbada nas costas pelas mãos sujas de óleo do presidente e recorreu à obra do escritor Monteiro Lobato para celebrar a engenhosidade verde-amarela. "O Brasil é o Sítio do Picapau Amarelo e a Petrobras descobriu petróleo atrás do galinheiro", festejou ela, recorrendo ao livro O poço do Visconde. "Dizia-se que o Brasil não podia refinar petróleo, produzir plataformas e recriar uma indústria naval. Então, foi um conjunto imenso de desafios que, hoje, a inteligência brasileira mostra que é capaz de enfrentar e superar", vangloriou-se a ministra. A seguir Dilma deu trégua, ressaltando que a Petrobras mostra "que o Brasil consegue fazer de forma sofisticada a utilização da tecnologia". Lula, ao final, também tratou de prestigiar a Petrobras. E disse ao presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, que ele não precisa se preocupar com o marco regulatório da exploração do petróleo, que será aplicado ao pré-sal. "Mãe é única, José Sérgio, e a Petrobras é a mãe da industrialização deste País", elogiou Lula. Entretanto, apesar da referência respeitosa, insistiu que as riquezas das reservas do pré-sal pertencem a todo o povo brasileiro. E reafirmou que os recursos oriundos da produção nas novas províncias petrolíferas ganharão dois destinos: a redução da pobreza e o investimento em educação. O presidente Lula não disse, mas ficou claro, que a prioridade oficial não é a distribuição de dividendos aos acionistas da Petrobras. A nova estatal vem aí.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias