Um estudo feito por pesquisadores do Hospital do Câncer e do Instituto Ludwig, de São Paulo, apresenta nova hipótese sobre a origem dos adenocarcinomas, um tipo de câncer de esôfago cada vez mais freqüente (no Brasil, ele responde por 30% dos casos desse câncer). A pesquisa sugere que o tumor tenha origem na região da cárdia, no estômago, e não no esôfago, como se pensava. Segundo o trabalho, as células tumorais do esôfago teriam características semelhantes às encontradas no estômago, numa evidência de que elas migram para o órgão por meio dos vasos linfáticos da região. A descoberta pode mudar os métodos de diagnóstico. “Sugerimos que os exames de biópsia sejam feitos também na região da cárdia, onde o câncer pode estar se desenvolvendo. Isso permitiria a descoberta precoce da doença”, acredita o médico Luiz Fernando Reis, coordenador do estudo.

As células que migram do estômago para o esôfago já contêm alterações malignas. E até hoje acreditava-se que as lesões provocadas pela chamada doença de Barrett, causada pelo refluxo crônico no esôfago – processo em que os sucos gástrico e biliar invadem o órgão, causando queimação –, propiciavam um ambiente favorável ao desenvolvimento do tumor. O estudo, no entanto, coloca essa crença em xeque. “Na verdade, o refluxo ocorrido na cárdia parece estar entre as causas mais importantes da doença no esôfago”, afirma o médico Rubens Sallum, um dos pesquisadores. O trabalho aponta outros fatores que podem estar associados ao câncer, como obesidade, uso de álcool e cigarro, além do consumo exagerado de substâncias presentes em embutidos, defumados, enlatados e conservas e em alimentos cultivados com excesso de fertilizantes. Eles se tornam ameaça quando o indivíduo é portador de refluxo na cárdia.

O estudo, que será publicado na edição desta semana da revista Cancer Research – uma das mais conceituadas do mundo –, foi feito com base na análise de amostras de tecidos de 71 pacientes. Agora, os cientistas querem ampliá-lo. “Queremos validar esses achados testando-os em um número maior de pessoas, envolvendo, inclusive, outros centros”, diz André Montagnini, outro participante do trabalho.