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UNIVERSITÁRIOS
Emmett Rensin e Alexander Aciman estudam letras e usaram
a linguagem da internet para resumir 83 clássicos

Livro mais lido e mais vendido de todos os tempos, a “Bíblia” inspirou peças de teatro e obras de ficção, sempre ofereceu emocionantes enredos para o cinema e já chegou a ser transformada em história em quadrinhos. Mas nenhuma dessas adaptações foi tão sintética quanto a assinada pelo cartunista sueco Henrik Lange. Em apenas três imagens retratando a criação do mundo, a morte de Jesus e o apocalipse, o artista resumiu assim um dos mais longos textos produzidos pela humanidade: “1 – No início Deus criou tudo (não virou feriado); 2 – Na segunda parte do livro, nasce o filho de Deus, Jesus (vira feriado), que depois morre na cruz por nossos pecados (feriado); 3 – E, no fim, é provável que todo mundo acabe indo pro inferno.” Moral da história: quem incentivou a preguiça, um dos sete pecados capitais, foi a Igreja. Mas quem paga a conta somos nós, os fiéis. Lange não fez essa heresia apenas com a “Bíblia”. Em sua obra, o best seller “90 Livros Clássicos para Apressadinhos” ­(Galera), ele apronta o mesmo com algumas dezenas de romances entre os mais famosos já escritos, desde a cultura grega até os dias de hoje – Paulo Coelho incluído.

Do outro lado do Atlântico, dois estudantes de literatura da Universidade de Chicago tiveram a mesma ideia, só que, em vez de usar a prancheta, fizeram seus resumos de obras antológicas via smartphone. Na antologia “Twitteratura – Os Maiores Livros do Mundo em 20 Tweets ou Menos” (ainda sem previsão de lançamento no Brasil), os universitários Emmett Rensin e Alexander Aciman, ambos de 20 anos, reuniram suas releituras de 83 obras-primas (algumas nem tanto) da literatura tendo como limite de texto o tamanho das mensagens do Twitter. Cada resumo poderia comportar, no máximo, 20 períodos de 140 toques cada, totalizando 2.800 caracteres. Uma passagem da versão condensada de “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, dá uma medida do desprendimento dos rapazes: “Vladimir e Estragão (protagonistas da história) estão de pé ao lado de uma árvore e esperam Godot. Seu status não foi atualizado.” Além do jargão da internet, a dupla usa abreviações e ícones comuns nas mensagens por e-mail e SMS (torpedos). É um sucesso.

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O aparecimento desses livros aponta para dois fenômenos da atualidade. O primeiro é o reconhecimento de que os grandes livros pertencem definitivamente ao passado; o segundo é a sensação de que, nessa época de incessante informação online, as pessoas não estão ­encontrando tempo para conhecê-los. Há quem acredite que aí se incluam os dois estudantes, que garantem ter lido todos os clássicos que homenageiam. Argumenta Aciman, aluno de literatura comparada: “Existem pessoas que nunca vão conhecer Marcel Proust ou James Joyce e, nesse caso, nosso trabalho oferece uma pequena porção dos romances desses autores. É infinitamente melhor ter acesso a esse aperitivo do que nunca ter ouvido falar deles.” Com certeza, especialmente diante de uma geração que acredita não haver nada nas livrarias além de “Crepúsculo”, livro que os universitários americanos juram nem ter folheado.

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QUADRINHOS
Livro do cartunista Henrik Lange sintetiza 90 obras em três desenhos

Em sintonia com a atual mania telegráfica, a editora Companhia das Letras criou uma ótima campanha na rede social para lançar a coleção de clássicos (integrais, não resumidos) que chega às livrarias no início de agosto, em parceria com a editora inglesa Penguin. Os autores de seu catálogo foram convidados a criar sinopses dos livros a ser editados – dez já foram divulgadas. Eis a do escritor e jornalista Lira Neto para “Metamorfose”, de Franz Kafka: “Certa manhã, Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos e descobriu o que todos nós, na verdade, sempre fomos: um reles e repulsivo inseto.” Só faltou dizer iletrado.

Confira outros clássicos da literatura condensados por Henrik Lange abaixo

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