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Os homens estão descobrindo que o estômago pode ser o melhor caminho para chegar ao coração das mulheres. A constatação foi confirmada recentemente pelo instituto de pesquisas do Reino Unido Future Foundation, que realizou um estudo com cerca de mil homens britânicos e descobriu que hoje eles gastam cinco vezes mais tempo na cozinha (27 minutos) do que em 1961. A justificativa citada por 48% dos entrevistados é mesmo o interesse em cozinhar para seduzir, por isso são denominados gastrossexuais. Os outros motivos são a solteirice e o hobby. De quebra, os gourmets do século XXI também passaram a ser mais assediados – basta ver o sucesso dos chefs Jamie Oliver e Gordon Ramsay que estrelam programas transmitidos pela tevê a cabo e foram apontados na pesquisa como símbolos para esse grupo. Para o chefe do setor de saúde e medicina sexual da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, Eliano Pellini, o novo comportamento deles é fruto do avanço feminino no mercado de trabalho, sobretudo a partir dos anos 70. "Com a inversão dos papéis, elas se tornam mais objetivas e, para compensar, procuram parceiros mais românticos e sensíveis", aposta o especialista, que é também professor de degustação da Associação Brasileira de Sommeliers.

O empresário Habib Ammari, 29 anos, descendente de libaneses, revelou que seu apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ganhou o apelido dos amigos de "caverna do dragão" ou "matadouro". Isso porque ele prepara, vez ou outra, um jantar especial cheio de segundas intenções. "Quando elas provam o arak (bebida árabe aromatizada com anis), a refeição acaba ainda mais rápido. Elas não resistem", garante. Mais romântico, o economista carioca Pedro Cecchi, 28 anos, conta que gostava de trocar badalações de sexta-feira à noite por um jantar a dois feito em casa para a (então) namorada. Cuidava da decoração, do vinho e da boa música. Apesar de não ter aprendido a cozinhar para seduzir, ele reconhece que a habilidade já rendeu boas conquistas. "Gosto de arriscar pratos sofisticados e especiarias diferentes. E elas adoram", diz.

A ligação tão próxima entre o prazer relacionado ao sexo e a gastronomia tem razões que começam na fisiologia de nosso organismo, explica Alexandre Saadeh, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e especialista em sexualidade. "O centro cerebral que recebe os estímulos do apetite e do prazer sexual estão muito próximos no sistema límbico", afirma. Além disso, fome e sexo são instintos animais básicos. Levar a candidata a um romance para assistir aos preparos na cozinha também pode ser parte da estratégia de conquista: "A habilidade manual do cozinheiro demonstra que ele é um bom amante em potencial", diz o especialista.

Não por acaso, percebe-se, a presença de homens nas aulas de gastronomia tem crescido muito. Segundo Lauro Carvalho, professor da escola Alquimia Culinária e presidente da Sociedade Brasileira de Amigos do Vinho, no Rio, assim como eles se dedicam hoje mais à cozinha, também elas entendem mais da bebida, responsabilidade masculina até pouco tempo atrás. "A maior diferença é que eles querem ser top e gastam bastante nos utensílios domésticos e em ingredientes sofisticados", afirma. Ex-aluno de Lauro, o empresário de turismo João Pedro Hilário, 27 anos, conta que investiu num curso de risotos, que lhe garantiu elogios da namorada atual e de relacionamentos anteriores. "É um prato único, prático, rápido e faz a maior vista", acredita.

O perfil traçado pela pesquisa britânica apontou os gastrossexuais como homens de 25 a 44 anos, em média, bem-sucedidos e interessados em culinária internacional. E os exemplares brasileiros da espécie parecem confirmar a tendência: o advogado Vicente Donnici, 27 anos, morador de Ipanema, na zona sul do Rio, prefere fugir dos pratos do dia-adia na hora de ir para a cozinha e apostar em novos temperos. "A estratégia conquista não só a namorada como também a sogra", diverte-se Donnici, que no entanto ainda não se casou.