A safra de balanços do primeiro semestre do ano está recheada de bons resultados. O sistema financeiro, é claro, não pára de registrar crescimento substancial em seus rendimentos, leia-se lucros. Fora dele, o destaque foi a mineradora Vale do Rio Doce, que atingiu o espantoso lucro de R$ 5,094 nos primeiros seis meses de 2005, os bancos voltaram a dar um show de lucratividade. O Bradesco, maior banco privado do País, simplesmente mais que dobrou (109,7%) o seu lucro, em comparação com o do primeiro semestre do ano passado, para R$ 2,62 bilhões. O resultado garantiu pelo terceiro trimestre consecutivo a dianteira em relação ao seu arqui-rival Itaú, segundo a consultoria Economática. A banca da família Setubal não ficou muito atrás: obteve um resultado líquido de R$ 2,47 bilhões, 35% acima do registrado no mesmo período de 2005.

Até a semana passada, além de Bradesco e Itaú, Unibanco e Banespa haviam divulgado seus resultados referentes aos primeiros seis meses do ano. No total, as quatro instituições lucraram R$ 6,8 bilhões. O crescimento das operações de crédito (só no Bradesco, o crédito para pessoa física cresceu 50%), a queda na inadimplência e, claro, os juros ainda nas alturas garantiram a esses bancos resultados recordes. O lucro do Bradesco passou a ser o maior da história do sistema financeiro brasileiro e da América Latina. Animado com o resultado, Márcio Cypriano, presidente do banco, não está muito preocupado com a crise política e prevê números ainda melhores para a instituição. “A economia está indo muito bem. Isso é um grande trunfo”, disse ele durante a divulgação dos números, na segunda-feira 8. Outro fato que ajudou no aumento da lucratividade dos bancos foi a diminuição da participação das despesas com pessoal nas receitas com serviços bancários. Em 2004, as instituições financeiras gastavam 71% do que arrecadavam com os serviços para o pagamento de seus funcionários. Nesses primeiros seis meses de 2005, caiu para 64%.

As empresas não financeiras também vêm melhorando seus resultados, caso
da Vale, cujo lucro supera a soma dos resultados dos dois maiores bancos do
País. Levantamento da consultoria Economática mostra que os lucros das companhias do setor produtivo estão sendo favorecidos pela queda do dólar. Como a moeda americana já caiu 11,5% nos últimos seis meses e 70% do endividamento das empresas são em dólar, a valorização do real impacta positivamente seus balanços. “Isso permitiu que elas inflassem seus resultados”, diz o consultor
Einar Rivero. O setor não financeiro, apesar dos juros altos, em termos de rentabilidade sobre o patrimônio líquido também está se aproximando dos resultados do bancos. Hoje, a lucratividade das instituições bancárias corresponde
a 25,9% do patrimônio, contra 22,1%. Essa relação, em 2004, era de 22% (bancos)
e 14,2% (empresas não financeiras).