Menu – Mensagem de texto – Nova mensagem – 1b, 2c, 3d. No ano passado, um simples comando como este – executado por qualquer adolescente munido de celular – foi suficiente para anular uma prova no colégio Santo Estevam, de São Paulo. Um aluno terminou a prova e mandou o gabarito pelo seu celular para os colegas na sala de aula. Como todos tiveram notas altas, a direção desconfiou e anulou a prova. Uma das alunas envolvidas na artimanha foi Carolina Azevedo, do segundo ano do ensino médio. Seus colegas Marcelo Alonso, do terceiro, e Dario Barrionuevo, da sexta série também apelaram para o celular. Marcelo confessa já ter mandado mensagens com cola e Dario trocou torpedos com os colegas em plena aula.

O celular tem causado muita dor de cabeça entre professores e diretores de escolas particulares, onde o aparelho proliferou. Além da cola, os torpedos e os escandalosos toques em hora inadequada também incomodam. “A troca de mensagens desconcentra o aluno. E os meninos fazem fotos das meninas em posições indiscretas”, conta Nair Helena Rezende, diretora pedagógica do Santo Estevam. O Colégio SAA, também em São Paulo, adotou a mesma postura que os exames vestibulares. Durante as provas, todo o material deve estar na frente da sala. Na mesa, apenas lápis, borracha e caneta. “É uma postura preventiva”, diz Otávio Moreira, coordenador pedagógico. A escola tem câmeras dentro das salas de aula há cerca de três anos.

Câmeras – Há seis anos, desde a criação da primeira unidade na Tijuca (zona
norte do Rio), o Colégio Ícaro instalou câmeras dentro das salas de aula. Sistema que o filósofo francês Michel Foucault condenaria até mesmo em presídios, como escreveu em Vigiar e punir. Hoje são três filiais e a última, no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste), adotou o que há de mais moderno: câmeras computadorizadas em 12 salas de aula. A diretora Marilda Braga Tavares alega motivos de segurança, mas admite o objetivo de vigiar os alunos. A medida serviu para pegar atos de indisciplina e gestos obscenos.

A presença das câmeras deixou indignada a pedagoga carioca Zaia Brandão,
do Instituto de Educação da PUC-Rio. “Isto faz supor que ela está lá para flagrar comportamentos inadequados. Parte do princípio da desconfiança, quando a educação tem que se basear no amor e na confiança”, critica a autora de A escola em questão: evasão e repetência no Brasil. No campo da cola tecnológica, o celular não é a única ferramenta. Uma aluna de uma escola paulistana já usou seu iPod, aparelho que armazena músicas, textos e em alguns modelos até fotos, para colocar informações sobre o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, que não tinha lido para
a prova. Conseguiu atingir a média. A aluna já foi pega colando pelo modo tradicional, com um pedaço de papel, mas, como o novo método ainda não foi descoberto, ela prefere esconder seu nome.