O governador de São Paulo acusa a gestão do PT de retardar ampliação dos aeroportos paulistas

 Ouça a entrevista com o governador Alberto Goldman dividida em quatro blocos:
 


Pedágios e seu uso na campanha eleitoral por Alckmin


Compromissos assumidos pelo estado para a Copa 2014


Relação entre o governo federal e o governo do estado


Pesquisas eleitorais que comparam Dilma e Serra 

 

 

 

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BICADA TUCANA
Para Goldman, no PT só restaram os que “mamam”

O governador de São Paulo, Alberto Goldman, diz que “não faltam macacos velhos” no PSDB para cuidar de articulações na campanha de José Serra à Presidência da República. Desta vez, ele, um dos mais experimentados articuladores da fauna tucana, garante que está fora. Goldman acha que o maior auxílio que pode dar a Serra “é governar”. Ao contrário de seu antecessor, ele chega cedo ao Palácio dos Bandeirantes e leva o expediente até as 22 horas. Não perde a chance de inaugurar nem recapeamento de estradas vicinais. “Aproveito e deixo claro que meu nome está na plaquinha, mas que a obra vem de antes…”, conta. Para os próximos meses, tem agenda cheia de inaugurações pelo interior paulista.

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"Mercadante não é bom nisso (discutir pedágios).
Ele só é bom de tro-ló-ló. Deveria se informar antes de dizer bobagens.
Isso é coisa de aloprado"

O relacionamento com o governo federal, segundo Goldman, tem sido tranquilo. Ele mantém “relações republicanas”, em especial com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas reclama da ineficiência dos petistas. Nesta entrevista de mais de uma hora à ISTOÉ, Goldman defendeu os pedágios paulistas e falou da carência de investimentos federais nos aeroportos e portos, já insuficientes para acompanhar o crescimento da economia paulista. Também garantiu que não colocará dinheiro do Estado na ampliação do estádio do Morumbi, mesmo que a capital acabe descartada para o jogo inaugural da Copa de 2014.

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"Não vamos colocar dinheiro público em estádio privado.
Se a Fifa não aceitar o Morumbi, não teremos a abertura da Copa"

 

 

 

 

 

ISTOÉ

Os pedágios paulistas viraram alvo de campanha e até o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, fala em rever esses valores. O que pode ser feito?

Alberto Goldman

Ele falou em dois pedágios. O de Jaguariúna já foi uma decisão tomada pelo Serra antes de deixar o governo. E o de Indaiatuba, onde não podemos mudar nada agora.

ISTOÉ

O candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, sugere que sejam renegociados os contratos, pois as concessionárias estariam lucrando muito. Como o sr. interpreta isso?

Alberto Goldman

Como piada isso é muito bom. Você vai chegar no empreendedor, que fez investimentos pesados durante anos e passou a primeira fase sem lucratividade nenhuma, e dizer que ele não ganha mais o que estava  combinado. Isso é impossível.

ISTOÉ

Não dá para aumentar o período da concessão?

Alberto Goldman

Isso já foi feito para obras adicionais. Foi feito na Anhanguera, na Bandeirantes, na Castelo Branco. Não há mais espaço para isso. Prolongar trará um resultado nulo, basta fazer o cálculo. Mas o Mercadante não é bom nisso. Ele só é bom de tro-ló-ló. O Mercadante deveria se informar antes de dizer bobagens. Isso é coisa de aloprado.

ISTOÉ

O PSDB não tem interesse em discutir a questão dos pedágios?

Alberto Goldman

A água, todos pagam, mesmo que não usem. A energia elétrica, o gás, o telefone também. A estrada é um serviço público, a diferença é que, se você não usa, não paga. Se baixar o pedágio, quem não usa a estrada também terá que pagar.

ISTOÉ

A abertura da Copa de 2014 será em São Paulo?

Alberto Goldman

Temos um compromisso assumido. Garantiremos acessibilidade ao estádio do Morumbi. Vamos fazer uma linha de metrô que liga às demais redes já existentes, passando pelo aeroporto de Congonhas e com uma estação próxima ao estádio. Isso custará R$ 3,5 bilhões e ficará pronto até a Copa. São recursos do governo estadual e um empréstimo do governo federal.

ISTOÉ

E as questões como estacionamento, segurança…

Alberto Goldman

Também assumimos o compromisso de ajudar a prefeitura com a reurbanização da área ao redor do estádio. Mas não podemos tratar do estádio em si por se tratar de um equipamento privado.

ISTOÉ

Mas o que tem feito a Fifa descartar o Morumbi são as reformas no interior do estádio.

Alberto Goldman

Eles foram aumentando as exigências e hoje exigem obras que superam os R$ 600 milhões. O São Paulo só quer bancar até R$ 200 milhões. Então, não haverá alternativa.

ISTOÉ

Não é importante ter a Copa em São Paulo?

Alberto Goldman

Se a Fifa não aceitar o Morumbi com obras menores, não teremos a abertura da Copa. Mas isso não significa que não teremos Copa, pois é importante para o Estado, para o País e também para a Fifa. Nesse caso, poderemos ter jogos no Parque Antarctica e até no Pacaembu.

ISTOÉ

E o Piritubão?

Alberto Goldman

Isso não existe. É um projeto que nasce para ser um centro de exposições internacionais. Nesse projeto foi ampliado o escopo para viabilizar um negócio, um empreendimento comercial e se introduziu a ideia de uma arena para 40 mil pessoas. Mas é impossível fazer isso até a Copa.

ISTOÉ

A abertura da Copa está descartada?

Alberto Goldman

Na próxima semana (dia 21) estarei com o presidente da CBF e vamos insistir para que eles aceitem o Morumbi, com as obras menores.

ISTOÉ

O governo não tem como fazer um estádio?

Alberto Goldman

Não quero fazer um estádio. Não vou gastar R$ 1 bilhão para fazer um monstro desses onde já há estádios em abundância, que dificilmente ficam superlotados. Seria um famosíssimo elefante branco.

ISTOÉ

Mas existe gente interessada na construção de um novo estádio.

Alberto Goldman

Parece. O Corinthians e o José Dirceu. Sempre tem um Zé Dirceu fazendo algum negócio. Quem diria, o meu Corinthians sendo utilizado por esses, esses… põe três pontinhos.

ISTOÉ

Como o governo federal tem tratado um governador tucano?

Alberto Goldman

A relação é muito boa. Nossos contatos mais frequentes são com a Fazenda, e o ministro Guido Mantega tem conosco um tratamento absolutamente limpo, no chamado nível republicano. O problema não é no relacionamento. É na ineficiência deles em cumprir a parte que lhes cabe. O governo federal é ineficiente.

ISTOÉ

Em que áreas?

Alberto Goldman

Aeroportos e portos, por exemplo. O mais grave ocorre com os aeroportos. Eles não conseguem resolver o problema. Não se mexem, não movem uma palha. Há anos cresce a demanda dos aeroportos de São Paulo de 10% a 13% ao ano. A situação é caótica e eles não conseguem sequer fazer a licitação do terminal 3 em Guarulhos desde 2007.

ISTOÉ

Mas o presidente Lula já anunciou inclusive a construção de um novo aeroporto em São Paulo.

Alberto Goldman

O Lula e a Dilma anunciaram publicamente a construção do terceiro aeroporto na região metropolitana, o que tecnicamente me parece adequado. Mas isso foi logo depois do acidente com o avião da TAM, em 2007. Falaram e nada fizeram. Depois, disseram que Viracopos poderia ser esse terceiro aeroporto. Mas também não fizeram nada.

ISTOÉ

E o Estado o que fez?

Alberto Goldman

Temos o projeto pronto, mas não podemos fazer porque o governo federal não autoriza.

ISTOÉ

O PSDB tem comemorado o fato de o Serra não cair nas pesquisas. Já não era hora de ele estar subindo?

Alberto Goldman

O fato de a Dilma não ter crescido em cima dele é importante. O Serra agora precisa conquistar novos espaços, mas esta eleição é diferente.

ISTOÉ

Diferente como?

Alberto Goldman

O presidente tem alta popularidade e a eleição acontece em um momento econômico muito favorável, ainda que meio aparente. Não é tão real quanto parece, mas ele parece…

ISTOÉ

Não é tão real?

Alberto Goldman

Não há crescimento de investimento nem de produção industrial. Temos uma volta à época de país produtor primário, exportador de commodities. E as pessoas estão comprando muito mais, mas não têm um salário maior. Essa sensação de bem-estar do cidadão, que com o mesmo salário pode comprar mais, é real. O problema é saber o que vai acontecer no futuro com esse processo de endividamento. Os EUA um dia explodiram.

ISTOÉ

O Brasil corre esse risco?

Alberto Goldman

Depende do quadro que vai se formar. Não é inevitável, mas corremos esse risco. O fato é que as pessoas podendo comprar mais sentem um alívio, e nada vai acontecer até outubro. Se não fosse tudo isso, a Dilma não estaria com 40%. Ela estaria disputando com o PSOL.

ISTOÉ

Falta discurso para o PSDB?

Alberto Goldman

Se o Lula fosse candidato, não haveria disputa. Não adianta ser anti-Lula. Mas com o PT é diferente. Agora é possível explorar o antipetismo. O Lula é maior que o PT. A Dilma, não.

ISTOÉ

Isso não é trabalhar em cima do medo, o que não deu certo antes?

Alberto Goldman

Não é a questão do medo. É uma postura contrária ao que o PT defende em seus princípios.  O Lula é o único sujeito capaz de dominar o PT. Isso ficou claro até na definição da candidatura. Com ele fora desse jogo, como esse processo se dará? Se hoje já há conflitos internos no governo, imagina o que acontecerá em um eventual governo da Dilma. Quando se fala do PT, não se está falando do medo, mas da postura.

ISTOÉ

Que postura?

Alberto Goldman

O autoritarismo. A forma de tratar os direitos humanos, seja na política externa, seja internamente. O Lula trabalhou a questão do Estado como uma coisa fluida. Ele pode ser um liberal, que apoia empresas nacionais com dinheiro público de tudo quanto é lado e ao mesmo tempo trabalha com a ideia de um Estado forte. Ele consegue fazer esse jogo duplo.

ISTOÉ

Isso agrada a todos…

Alberto Goldman

Com os sindicalistas, o que ele fez? Deu dinheiro, deu cargos. E os grandes empresários? E os bancos? Estão todos satisfeitos. Não sei se outra pessoa teria essa capacidade.

ISTOÉ

O PSDB precisa se fortalecer?

Alberto Goldman

Sempre achei fundamental que houvesse partidos consistentes. O que vi nessas últimas décadas foi o contrário. No Brasil não há partidos consistentes. O PT era um partido, mas hoje eles não são absolutamente nada. São usufrutuários do poder.

ISTOÉ

O que acontecerá com o PT se a Dilma perder a eleição?

Alberto Goldman

O partido desmorona. Eles perderam os grupos ideológicos mais rígidos e só sobrou o pessoal que mama. Concretamente é isso.

ISTOÉ

E se o Serra perder a eleição, o que acontece com o PSDB?

Alberto Goldman

O PSDB passou por esse processo em 2002. Mas agora sairá um PSDB diferente. Em São Paulo, boa parte do partido tem a cara do Alckmin. As lideranças maiores, como Fernando Henrique, Serra e o próprio Covas, essas estarão fora.