O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) tem uma convicção: Lula sabia da operação do mensalão que hoje paralisa o governo, esmaga o PT e constrange o País. E depois do depoimento de Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes na quinta-feira 11 na CPI dos Correios, o senador acha que o impeachment de Lula deve ser cogitado: “Temos que considerar o impeachment”, afirma. Um dos mais ativos integrantes da oposição na CPI dos Correios, o senador, que mostra uma aparência jovem aos 60 anos, falou na semana passada a ISTOÉ.

ISTOÉ – Afinal, Lula sabia?
Álvaro Dias
– Essa rede organizada de corrupção tinha um objetivo: dar
sustentação financeira a um projeto de poder de longo prazo cujo principal beneficiário era o presidente Lula. Esse modelo de corrupção implica relação promíscua entre os Poderes Executivo e Legislativo, partidos e empresários,
em nome do fim que justifica os meios.

ISTOÉ – Qual o primeiro fato que ampara sua suspeita?
Dias
– O grupo responsável por esse esquema, constituído por amigos
íntimos do presidente: José Dirceu, Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Waldomiro
Diniz, Luiz Gushiken e José Genoino. Não há como admitir que o presidente
não tenha participado de forma ativa desse projeto de poder. Eles comandavam
o partido há tempos e juntos foram para o governo com Lula. Denunciei no Senado que Delúbio Soares recebia empreiteiros no Planalto e isso se confirma agora
com a agenda da Casa Civil.

ISTOÉ – O que provaria o
envolvimento do presidente?
Dias
– Começou por aquela patética entrevista
em Paris, gravada antes que seus parceiros
de versão – Delúbio e Marcos Valério – se pronunciassem publicamente. Ele gravou sabendo de antemão da versão que seria vendida à opinião pública. Ou seja, participou tentando restringir tudo
a um esquema de corrupção eleitoral, o que por si só já é grave.

ISTOÉ – Ao depor na CPI dos Correios, o publicitário Duda Mendonça declarou que foi Marcos Valério quem pagou mais de R$ 10 milhões que lhe eram devidos pelo PT. E que o maior volume de recursos foi pago no Exterior.
Dias
– Esse fato é da maior gravidade e, embora a oposição evitasse falar nisso antes, agora temos que pensar no impeachment. A situação é muito séria, estamos falando de dinheiro pago no Exterior, através de empresas offshore. De onde vieram esses recursos? O quadro se agravou e o impeachment tem que entrar em nossas considerações.

ISTOÉ – O Fiat Elba foi a ligação entre PC Farias e Collor.
Qual seria o Fiat Elba de Lula?
Dias
– Temos provas que desmontam a versão fantasiosa da prática de corrupção eleitoral. É uma vertente, mas não é a única. As provas explicitam a existência do mensalão, o pagamento de propina a políticos longe do período eleitoral – especialmente fevereiro, março, abril e maio de 2003 –, que coincidem com as mudanças de partido em setembro de 2003. Depois, o objetivo era a aprovação de projetos no Congresso.

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ISTOÉ – O que pode bater em Lula?
Dias
– Na investigação política, não há necessidade de provas materiais para concluir e responsabilizar pessoas. Evidentemente o presidente não assinaria documentos suspeitos que o implicassem como autor de um projeto de corrupção, mas os indícios falam por si. Ulysses Guimarães dizia que, numa CPI, segue-se o cheiro da corrupção e se chega ao corrupto.

ISTOÉ – Onde chega esse cheiro de corrupção?
Dias
– No Palácio, muito próximo dele, sem dúvida. É subestimar a inteligência
das pessoas afirmar que Lula não sabia. Mesmo que não soubesse, não
eliminaria sua responsabilidade. Ele foi eleito para saber e não para ignorar,
para ver e não para não enxergar nada.

ISTOÉ – Há informações de que o Planalto acionou a Abin e a Polícia Federal para uma operação pente-fino nas contas pessoais do presidente e sua família para verificar um possível envolvimento.
Dias
– Os escrúpulos foram para o espaço. Desde a posse, membros do governo e do partido faziam uma grande confusão entre o que é partido e o que é governo. Misturavam o público e o privado. O PT pagou as contas da festa da posse com o dinheiro de Marcos Valério, que passou a resolver dificuldades para obter facilidades. Tornou-se o grande operador financeiro dessa rede sistêmica de corrupção.

ISTOÉ – A economia não deve temer a investigação?
Dias
– Devemos pagar para ver. Se a conclusão do processo for pelo
impeachment do presidente, paciência! O correto seria antes concluir os
trabalhos da CPI, para que as provas fossem mais consistentes, demarcando
o eventual crime de responsabilidade praticado pelo presidente – ou por prevaricação ou por participação efetiva.

ISTOÉ – A conexão mineira não mostra que o PSDB também entrou na história?
Dias
– Minas Gerais é um fato isolado, que ocorreu em 1998…


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