14/07/2010 - 12:25
A Polícia Civil de Minas retomou na manhã desta quarta-feira (14) as buscas por vestígios do assassinato de Eliza Samudio nos sítios do goleiro Bruno Fernandes Souza e de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, amigo do atleta, em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Adolescente
Nessa terça-feira (13), o adolescente J., de 17 anos, afirmou novamente que Bruno não esteve presente no local em que sua ex-amante foi supostamente morta, contrariando declaração de outro primo do goleiro, Sérgio Rosa Sales. O jovem foi ouvido na tarde dessa terça pelo promotor Leonardo Barreto Moreira Alves após ele ter sido transferido do Rio de Janeiro para a capital mineira, onde ficará por 45 dias no Centro de Internação Provisória (CEIP).
Após colher o depoimento do menor, o promotor Leonardo Barreto Moreira Alves fez uma representação contra J. "Ele é acusado de ter participado do homicídio, ele é acusado de ter participado do sequestro e também da ocultação do cadáver", disse Alves.
De acordo com o promotor, o menor ficará à disposição da Justiça até a conclusão de um procedimento aberto no Juizado da Infância e Juventude que correrá paralelamente ao inquérito instaurado pela Delegacia de Homicídios de Contagem.
Lei Maria da Penha
A juíza Ana Paula de Freitas, do 3º Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou nessa terça-feira (13) que não se arrepende de ter negado medida protetiva para a estudante Eliza Samudio, mãe do suposto filho do goleiro Bruno Souza, e encaminhado o caso para a 1ª Vara Criminal da região. Em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo, a juíza disse que a medida, prevista na Lei Maria da Penha, não se aplicaria ao caso e, mesmo que se aplicasse, não seria suficiente para impedir o sumiço da jovem.
Em outubro de 2009 Eliza, grávida de cinco meses, disse ter sido agredida pelo jogador. Segundo a juíza, o caso não se enquadrava na Lei Maria da Penha porque a relação de Eliza com Bruno não se caracterizava como uma relação íntima, de afeto estável.
Nova amante
A Polícia Civil de Minas Gerais pretende convocar para prestar depoimento Fernanda Gomes de Castro, de 32 anos, suposta amante do goleiro. Ela passou a ser investigada no inquérito que apura o desaparecimento de Eliza Samudio. A polícia suspeita que Fernanda teria ajudado Bruno a se esconder depois que a prisão temporária do goleiro foi decretada.
Conforme depoimento do adolescente primo de Bruno, Fernanda estaria com o jogador e teria recebido Eliza e o bebê em seu condomínio, no Rio de Janeiro, quando a vítima estava sendo levada de um hotel na capital fluminense para Esmeraldas (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte. A polícia suspeita que a Fernanda tenha seguido para Minas com o goleiro e o bebê de Eliza em uma BMW emprestada por uma concessionária, enquanto a vítima foi levada na Range Rover de Bruno, dirigida pelo braço direito do jogador, conhecido como Macarrão.
A amante de Bruno teria permanecido no sítio até o dia 7 – no período em que Eliza estaria sendo mantida em cárcere privado -, quando retornou para o Rio. Ela também teria ajudado o goleiro a se esconder após a apreensão do adolescente de 17 anos, que contou à polícia sobre o suposto sequestro e morte de Eliza.
A delegada Ana Maria Santos, chefe da Delegacia de Homicídios de Contagem, disse nessa terça-feira (13) que os primeiros indícios envolvendo Fernanda foram levantados pela Polícia Civil do Rio e que seu nome já foi citado em depoimentos. "Com certeza, nós vamos enveredar por esse caminho. A polícia do Rio estaria verificando essa situação e, assim que for o caso, a buscaremos para prestar depoimento."
Entenda o caso
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte.
Durante a investigação, testemunhas confirmaram à polícia que viram Eliza, o filho e Bruno na propriedade. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayane Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado. Por ter mentido à polícia, Dayane Souza foi presa. Contudo, após conseguir um alvará, foi colocada em liberdade. O bebê foi entregue ao avô materno.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em depoimento, admitiu participação no crime. Segundo o delegado-geral do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP) de Minas Gerais, Edson Moreira, o menor apreendido relatou que o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, estrangulou Eliza até a morte e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães. Segundo o delegado, no dia do crime, o goleiro saiu do sítio com Eliza e voltou sem ela, o que indicaria que o goleiro presenciou a ação.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Os três negam participação no desaparecimento. A versão do goleiro e da mulher é de que Eliza abandonou o filho. No dia 8, a avó materna obteve a guarda judicial da criança.