Em um cartaz ou numa capa de revista pode estar resumida toda uma época e isso apenas por meio de traços e cores. É possível perceber, no trabalho de artistas gráficos, o que está na moda, o que assusta a sociedade, o que provoca o riso das pessoas, com que tipo de coisa se encantam ou se emocionam. Talvez por isso possamos chamar o livro Latin american graphic design, (Taschen) de um documento. A obra é resultado de quatro anos de pesquisa do designer Felipe Taborda e do editor Julius Wiedemann, que percorreram a América Latina numa verdadeira “operação pente-fino” em busca dos melhores designers de 1960 para cá. Vinte países foram pesquisados e, ao final, a dupla selecionou 189 artistas e estúdios gráficos. O resultado é, também, uma viagem: enquanto a arte evolui, a criatividade explode e o mundo se reinventa. Lançado na Espanha, o livro de mais de 500 páginas será apresentado aos brasileiros no dia 25 de setembro, no Oi Futuro, no Rio de Janeiro. No dia 22, acontecerá o lançamento no Malba de Buenos Aires e, no dia 29, na Galeria Anima, em Santiago do Chile.

Segundo Wiedemann, há três elementos que norteiam a produção gráfica no continente: transgressão, uso de cor e sexo. “Sempre desenhamos assim. A diferença é que, agora, esses valores passaram a ser apreciados lá fora”, diz o editor da poderosa Taschen. Para Taborda, a marca identificada por profissionais estrangeiros é a “espontaneidade e leveza”. Aliás, essa percepção internacional começa aqui mesmo, em nosso continente. “O primeiro grande mérito desse livro é apresentar a América Latina para ela mesma. Depois, para o mundo”, diz Taborda. O Brasil participa com quase 40 trabalhos de artistas individuais e de estúdios gráficos. Estão lá desde nomes da geração mais antiga, como Hans Donner, Aloísio Magalhães, Ruben Martins e Alexandre Wollner; da turma que veio depois, como Ricardo Van Steen, Gringo Cardia, Luiz Stein, Victor Burton, Fernando Pimenta e o próprio Taborda; até representantes mais jovens e, por isso, ainda desconhecidos, entre eles Clarissa Tossin, Leonardo Eyer e Christiano Menezes.

Os brasileiros se destacam – Van Steen, por exemplo, é um dos poucos que ganharam quatro páginas –, mas não há condescendência porque os autores são conterrâneos. “O que está no livro é bom em qualquer lugar do mundo”, afirma Taborda. O único cuidado especial, explica ele, foi para não reforçar estereótipos. Não há Carlos Gardel, bananas ou mulher na praia gratuitamente. Quando aparecem, estão ilustrando trabalhos excelentes. “O Brasil é a maior potência da região, mas o livro está longe de mostrar mais o País. A intenção é, na verdade, exibir as semelhanças que temos com nossos vizinhos. A diferença que o Brasil vive hoje é que somos bons em muitas áreas, como arte, arquitetura, design, design gráfico, web design, propaganda, música, fotografia, cinema”, diz Wiedemann. Ele reconhece que existe uma fertilização cruzada entre todas essas áreas e frisa: “Nossa vantagem é que ainda criamos cultura e não estamos apenas embalando algo pronto, como o Primeiro Mundo geralmente faz.”

Há pencas de trabalhos com ícones de décadas passadas, como o pôster da revolução cubana com a estampa de Fidel Castro, o cartaz do filme Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, muitas capas de CDs, entre as quais os marcantes trabalhos de Giovanni Bianco para os discos de Madonna. Junto com as imagens, tem-se uma cuidadosa pesquisa sobre como os países latino-americanos foram contribuindo para o desenvolvimento do design no mundo. Ainda sem preço no Brasil, a obra já está integralmente disponível no site da Taschen (www.taschen.com) para ser consultada.


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