12/07/2010 - 11:22
Depois de passar a tarde interrogando suspeitos de terem participado do sequestro e morte de Eliza Samudio, a polícia não revelou novidades no caso do goleiro Bruno nesta segunda-feira (12). Isto porque o principal suspeito, o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, ficou calado durante todo o depoimento. De acordo com seu advogado, Zanone Manuel de Oliveira Junior, ele respondeu a mais de 30 perguntas do delegado Edson Moreira com a mesma frase: "Me reservo no direito de permanecer calado e somente falo em juízo". Bola é suspeito de ter assassinado a ex-amante de Bruno.
O advogado afirmou que entrará ainda nesta segunda com pedido de Habeas Corpus para soltar seu cliente. Ele afirmou ainda que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma reclamação contra os delegados que atuam no caso e contra a juíza Marixa Fabiane Lopes, da Comarca de Contagem, por não ter tido acesso ao inquérito.
Três outros suspeitos de participação no desaparecimento da estudante prestaram depoimento na Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), em Belo Horizonte (MG). Elenilson Vitor da Silva, Wemerson de Souza, o Coxinha, e Flávio Caetano serão ouvidos pelos delegados responsáveis pelo caso, eles estão detidos no presídio de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), desde a semana passada. A delegada Alessandra Wilke, que investiga o caso, disse que não ouvirá nesta segunda-feira Bruno e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão.
Gripe
O goleiro Bruno, detido no complexo penitenciário Nelson Hungria, em Contagem (MG) por suspeita de envolvimento na morte de Eliza Samudio, voltou a passar mal nesta segunda, se queixando de tosse e gripe. O laudo médico sobre o atendimento ao atleta apontou que ele apresenta "bom estado geral".
De acordo com o documento, Bruno disse também que estava com vertigem e náuseas desde esse domingo (11). Ele negou qualquer outra doença, alergia ou uso de medicações. O goleiro recebeu tratamento para gripe, segundo a médica Cláudia Sueli da Rocha, do sistema penitenciário da Secretaria de Estado de Defesa Social, que assinou o laudo.
Acareação
A Polícia Civil mineira quer promover uma acareação entre os primos de Bruno Fernandes, o menor J. e Sérgio Rosa Sales, para esclarecer divergências nas versões apresentadas pelos dois em depoimentos sobre o desaparecimento de Eliza Samudio, de 25 anos, ex-amante do goleiro.
Um pedido de transferência de J. para Belo Horizonte deverá ser feito ao juiz Marcius Ferreira, da Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro. O adolescente, cujo depoimento deflagrou a prisão de Bruno e outros suspeitos, foi detido semana passada na casa do goleiro, na Barra da Tijuca. Ele chegou a ser transferido para a capital mineira, mas retornou ao Rio e permanecia internado no instituto para menores infratores Padre Severino. Caso a transferência não seja autorizada, policiais de Minas deverão seguir para o Rio com Sérgio, onde poderá ser feita a acareação.
Entre as informações conflitantes nos depoimentos, está a participação de Bruno no crime. J. isenta o goleiro de envolvimento com o suposto sequestro, tortura e morte de Eliza. Já o depoimento de Sérgio indica que Bruno sabia e participou dos fatos, estando presente no local do crime. Ele, inclusive, teria questionado o goleiro sobre as implicações do homicídio.
Os delegados responsáveis pelo inquérito pretendem nos próximos dias colher o depoimento de Bruno e outros principais suspeitos, como o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado como o autor da execução e ocultação do cadáver, e Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Os depoimentos são considerados fundamentais para a elucidação do caso e novas diligências em busca do corpo da vítima.
Perícia
A expectativa é que durante a semana sejam também divulgados dados periciais importantes para a investigação. O Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil procura evidências do crime analisando a movimentação da Range Rover de Bruno, por meio de dados já requisitados do GPS do veículo.
O primeiro mapeamento enviado por uma seguradora paulista não constava o período de 1º a 8 de junho, o que levou a polícia mineira a fazer nova requisição. As informações são mantidas sob sigilo, mas a análise do GPS indica que caminhonete de Bruno circulou pelas cidades de Esmeraldas, Betim, Ribeirão das Neves e Contagem, todas na região metropolitana, no dia 9 de junho, data em que a polícia acredita que Eliza tenha sido assassinada. Com o relatório, será possível verificar o trajeto do veículo no período investigado e o tempo em que ficou em cada local. "Essas cidades são muito próximas umas das outras", observou o diretor do IC, Sérgio Ribeiro. "Não temos os dados ainda."
O instituto também deverá finalizar a perícia no Citroen de Bola, onde foram encontrados vestígios de sangue, e em um EcoSport que teria sido usado para levar o grupo ao local do assassinato. Em busca de provas, o IC analisa ainda o conteúdo do laptop utilizado por Eliza.
Durante o fim de semana, os trabalhos de investigação da polícia foram mantidos em segredo e praticamente não houve movimentação no Departamento de Investigação, na capital.
Caso
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte.
Durante a investigação, testemunhas confirmaram à polícia que viram Eliza, o filho e Bruno na propriedade. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayane Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado. Por ter mentido à polícia, Dayane Souza foi presa. Contudo, após conseguir um alvará, foi colocada em liberdade. O bebê foi entregue ao avô materno.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em depoimento, admitiu participação no crime. Segundo o delegado-geral do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP) de Minas Gerais, Edson Moreira, o menor apreendido relatou que o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, estrangulou Eliza até a morte e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães. Segundo o delegado, no dia do crime, o goleiro saiu do sítio com Eliza e voltou sem ela, o que indicaria que o goleiro presenciou a ação.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Os três negam participação no desaparecimento. A versão do goleiro e da mulher é de que Eliza abandonou o filho. No dia 8, a avó materna obteve a guarda judicial da criança.