i62404.jpgHouve um tempo em que histórias sobre robôs controlados por cérebros humanos não passavam de ficção científica. Hoje é uma realidade. Foi o que mostrou uma equipe de cientistas da Universidade de Reading, no Reino Unido. Com cerca de 300 mil neurônios retirados de um feto de rato e conectados a 60 eletrodos, eles fabricaram em laboratório um cérebro biológico capaz de receber e enviar sinais elétricos. São esses sinais que orientam Gordon, o pequeno robô do experimento, em suas caminhadas e o desviam de obstáculos. Assim, a equipe pretende entender o processo de registro da memória pelo cérebro e contribuir com estudos sobre doenças neurodegenerativas.

Outro grupo de pesquisadores europeus investe no desafio de criar o Robot Habilis, um robô dotado com funções cognitivas, flexibilidade e sistema sensorial, tudo comandado por um programa de computador inspirado no cérebro humano. Sua missão será a de ajudar no tratamento dos males de Parkinson e Alzheimer. A primeira versão da mão robótica que compõe a máquina tem um nível de precisão tão grande que ela é capaz de segurar um ovo e, ao mesmo tempo, estalar os dedos sem quebrá-lo. Estabelecer essas interfaces entre cérebro e máquina para proporcionar benefícios a pessoas que perderam funções básicas é a grande fronteira da neurociência moderna. "Muitos países criam pólos de pesquisas, apresentam novidades em próteses motoras e estudam a viabilidade de próteses sensoriais", diz o neurocientista Miguel Nicolelis, brasileiro que dirige o Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke, nos EUA. Ele é responsável pelo desenvolvimento da neuroprótese, um sistema que permitirá que pessoas com deficiências físicas consigam se movimentar a partir de próteses motoras (espécie de veste robótica) comandadas por sinais elétricos enviados pelo cérebro.

Depois de 20 anos de pesquisas, Nicolelis prepara-se para iniciar a fase preliminar de seus experimentos, o que o aproxima ainda mais do início dos testes da neuroprótese em humanos. "É importante mencionar que essa terapia não resolverá todos os problemas. Ela será voltada a pacientes com lesões na medula espinhal ou com degeneração no sistema motor periférico", afirma. Mas a verdade é que todos esses avanços que cercam a neurotecnologia são responsáveis por aproximar milhares de pessoas da realidade de superar limitações que lhes impedem de ter uma vida normal.

Brasileiro de atitude
ISTOÉ – O sr. está à frente do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Quais benefícios ele traz ao País?
Miguel Nicolelis –
Nesses primeiros três anos, conseguimos transformar as cidades de Natal e Macaíba em pólos de pesquisa de ponta em neurociência. Além disso, atendemos cerca de mil crianças que cumprem um currículo de aprendizagem em laboratórios de ciência e tecnologia. Usamos a ciência como agente de transformação social e regional.

Os srs. pretendem disseminar esse projeto?
Estamos acertando com o governo da Bahia para criarmos um instituto de pesquisa no semi-árido do Estado. Também foi assinado um protocolo de intenções para a implantação de um pólo neurotecnológico em Santa Catarina, uma iniciativa inédita no mundo. Nós queremos que essa seja a base para a criação do primeiro hospital do cérebro do Brasil.

Qual é o cenário da neurotecnologia no Brasil?
O País tem uma tradição de grandes neurocientistas e, agora, ao se voltar para todo o seu território, está ampliando esse quadro. Estamos descobrindo grandes talentos que, com todas as oportunidades que podemos lhes proporcionar, contribuirão com o processo de desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil.