Como um presente de fim de ano, chegam ao mercado dois DVDs sobre um dos grupos-ícone da cultura brasileira, formado pelos baianos Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil. O diretor Jom Tob Azulay, que assina a reedição do filme Doces bárbaros, de 1978, lança o DVD da histórica turnê de 1976. Andrucha Waddington coloca no mercado Os outros bárbaros, sobre o reencontro do quarteto em 2002. No próximo ano, o tributo se completa com o lançamento de um livro do empresário e produtor cultural carioca Guilherme Araújo, que descobriu os baianos tropicalistas. Em sua casa de dois andares em Ipanema, zona sul do Rio, Araújo remexe gavetas cheias de fotos e outros registros destes artistas que barbarizaram o país em décadas passadas. Seu precioso arquivo vai virar o livro Fotos. “Vou escrever pouco, ser bastante objetivo. As imagens falam por si.” Muitas cenas reproduzem momentos de confraternização, como almoços ou reuniões informais, regadas a violão e intenções de mudar o mundo.

Araújo acha que boa parte dos objetivos daqueles jovens cabeludos e talentosos foi alcançada. “O mundo melhorou do ponto de vista da liberdade, dos direitos. Quanto à música, não posso dar opinião porque não acompanho mais.” Diabético e com a saúde geral debilitada, ele diz que não ouve música. “Não tenho paciência nem vontade”, explica. Também não tem celular, computador ou rádio. Apenas dois projetos ocupam seu tempo e interesse. Depois de oficializar a doação de sua casa ao governo do Estado para sediar um futuro centro cultural, ele estabelece as diretrizes. “Quero que seja um gabinete de leitura, espero organizar um acervo literário. Todos os móveis e peças ficarão como estão para serem usados pelo público”, conta.

O outro projeto é a “festa erótica” de aniversário, em setembro do ano que vem, quando completará 69 anos. “Estou procurando quem faça os dois
bolos; um em forma de caralho e o outro, de xoxota”, explica, de forma quase pueril. Para ele, que mantém sobre os móveis da casa objetos decorativos no formato do aparelho genital masculino – de louça, argila, madeira –, tudo parece, de fato, muito normal. Quem conhece Guilherme Araújo – festeiro-mor do Rio de Janeiro, organizador de grandes bailes de réveillon e de Carnaval em épocas passadas – não vai estranhar esses bolos. Homossexual assumido, ele diz que “gays são alegres, se divertem muito e gostam de festas”. Araújo é um carioca feliz. Mesmo adoentado, passeia pelas ruas de Ipanema elegantemente vestido, sempre com uma bengala chique e um chapéu – de preferência, exótico, em estampa de oncinha ou cores berrantes. Um bárbaro doce.