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Carga variável
A professora Viviane Matero dá o mesmo tipo de exercícios de fortalecimento para os corredores Roberto Toledo e Sabrina Koester.
“Mas com intensidade diferente. Para ela, precisa ser mais leve”, diz a educadora física do Projeto Mulher e do Núcleo Aventura

Um estudo divulgado na última edição da publicação “Circulation”, jornal da Associação Americana do Coração, confirmou uma percepção que os especialistas em medicina do esporte alimentavam há alguns anos: a estratégia para a realização de exercícios físicos de homens e mulheres não pode ser a mesma. Realizado pelo Departamento de Cardiologia e Medicina Preventiva da Northwestern University, de Chicago, o trabalho afirma que o índice de frequência cardíaca máxima, usado para nortear a prática esportiva, precisa ser diferenciado para as mulheres. Hoje tem-se como referência para ambos os sexos a seguinte equação: 220 menos a idade. O resultado dessa conta é usado para calcular a frequência cardíaca na qual o indivíduo deve realizar o seu treino – entre 50% e 80% de sua capacidade máxima.

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De acordo com os cientistas americanos, para as mulheres essa conta deve obedecer uma regra um pouco mais complexa: 206 menos 88% da idade, o que resultará em um número menor em relação ao obtido com a fórmula antiga. Embora a diferença pareça pequena, ela é preciosa, pois quando a atividade física é realizada acima da taxa adequada o coração trabalha mais do que poderia. E isso, definitivamente, não é bom. “Nessas condições, o músculo produz ácido lático, fazendo com que surja a sensação de fadiga”, diz a cardiologista Isa Bragança, do Rio de Janeiro. “Além disso, a sobrecarga ameaça o coração”, diz o médico Rogério Neves, do centro SportsLab, em São Paulo.

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Controle do peso
A lutadora de tae kwon do Danielle Nogueira, 24 anos, treina mais e consome menos calorias do que os
homens que praticam a mesma atividade  Isso porque ela tem menos massa muscular, responsável
por grande queima calórica. “Para perder peso, fiz uma dieta com mais proteína do que carboidrato”, diz

Aliás, foi a observação de que muitas mulheres passavam a apresentar problemas cardíacos após iniciarem-se na prática de exercícios que levou a cardiologista Martha Gulati, autora do trabalho que originou a nova fórmula, a pesquisar o assunto. “Sempre recomendei a realização de atividades físicas”, contou à ISTOÉ. “Mas comecei a receber pacientes com dificuldades cardíacas resultantes de exageros nos treinos”, disse. Depois de muito investigar, ela descobriu que o problema estava em se exercitar em uma frequência cardíaca imprópria para o sexo feminino. Médicos, responsáveis por academias e treinadores de esporte agora discutem como adotar a nova medição. No Brasil, as academias correram para se adaptar. “Para as mulheres que chegam agora, já estamos fazendo o cálculo novo”, conta Eduardo Neto, diretor técnico das redes de academia A! Body Tech e Fórmula. Nos Estados Unidos, Martha prepara um aplicativo para iPhone e internet.

A verdade é que mudanças como essas começam a alterar o panorama da atividade física – das academias aos treinos de atletas de alta performance. O objetivo dessa nova maneira de olhar a prática de exercícios é respeitar as diferenças físicas e emocionais entre homens e mulheres com a finalidade de melhorar, em ambos os gêneros, o desempenho e a capacidade de recuperação do organismo após o treino.

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Sem exageros
Há 11 anos o modelo e ator Marcos Fernandim, 30 anos, entrou pela primeira vez em uma academia. “Queria abandonar o visual de adolescente franzino”, conta. Empolgou-se tanto que em pouco tempo já estava musculoso. Afinal, para os homens é mais fácil ganhar massa muscular. Por causa da passarela, teve de dosar melhor o treino, mesclando os exercícios para hipertrofia muscular com atividades aeróbicas

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que as respostas de um e de outro à prática da atividade física não tinham tanta diferença. Essa ideia pode ser vista, por exemplo, no futebol, no qual as mulheres competem em um campo com as mesmas dimensões usadas para os homens, com traves com a mesma altura e bola com o mesmo peso – ainda que se saiba que a estatura média feminina é menor e que elas têm menos força física. “Buscar adaptações para a mulher não quer dizer que ela não possa praticar determinada modalidade”, afirma Timóteo Araújo, do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física, de São Caetano do Sul. “É uma forma de garantir a elas mais segurança e desempenho melhor”, diz.

PARTE 2