Dos tempos bicudos da ditadura restaram apenas os óculos escuros que lhe acentuavam a carranca de mal-humorado – e que ele usava mesmo em ambientes fechados, por desconhecimento das regras básicas de elegância ou por medo dos olhos-nos-olhos com os seus interlocutores. Hoje, aos 82 anos, Octávio Aguiar de Medeiros é um anônimo velhinho que sai cada vez menos de casa, e quando o faz é somente para uma rápida caminhada matinal pelo Lago Sul de Brasília. Sai de óculos. E tira-os no refúgio do lar, uma residência de classe média. Assim vive o ex-temido ex-chefe do ex-Serviço Nacional de Informações (SNI). Medeiros vive o recato do militar de pijama e o desinteresse que a democracia impôs aos condestáveis do regime autoritário, sepultado há quase duas décadas quando o último general de plantão, João Baptista Figueiredo, pediu ao País que o esquecesse. Como o regime ao qual serviu à frente da linha dura, Medeiros mergulhou no olvido compulsório. Desgastado pelo Caso Baumgarten e traumatizado pela bomba do Riocentro, ele perdeu a vez de realizar o seu sonho e ser o sucessor de Figueiredo, prolongando a ditadura. Até semanas atrás, Medeiros tinha o hábito de buscar pessoalmente o seu almoço num restaurante a quilo no Shopping Gilberto Salomão, a quatro quadras de sua casa. Agora permanece ainda mais recluso e trancado como os arquivos do regime que ele personificou.