Por algum motivo, não importa o motivo, em algum momento de suas vidas elas não foram um modelo de moça. Por algum motivo, não importa o motivo, elas transgrediram independentemente de suas vontades – e os muito conservadores que desculpem, mas transtornos de personalidade têm de ser olhados como uma patologia que surrupia o pleno livre-arbítrio e merece ser tratada, não apenas punida. Na tarde e na noite da quarta-feira 24, na Penitenciária Feminina do Butantã, essas moças que algum dia não foram modelo de moça se tornaram moças-modelo nas seguintes categorias: modelo de beleza, modelo de simpatia e modelo de literatura em prosa e verso. Nessa penitenciária ocorreu a final do primeiro concurso entre presidiárias, numa iniciativa (visando à reinserção social e no mínimo brilhante no quesito cidadania) do secretário da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Nagashi Furukawa. Foi uma festa. Festa de tons de batons, festa de tons de lápis de olho, festa de saltos, festa de tons de vestido rasgando a monotonia do tom bege e branco de seus uniformes de presidiárias. E, mais que uma festa, uma alegre terapia – ou seja, essas moças foram tratadas na emoção. “Há seis anos eu não colocava vestido nem salto alto, não lia em público um texto de minha autoria. Me sentir mulher novamente me dá um horizonte. Por um dia eu me vesti e me enfeitei para pessoas, não me vesti somente para paredes cinzentas e grades de ferro, não me maquiei para a solidão”, disse a ISTOÉ Karla de Meneses. A fala de Karla resume as falas de todas as presas submetidas à avaliação de uma eclética mesa de jurados que contou, entre outras personalidades, com o advogado criminal Roberto Podval, com o sambista Tobias (da Vai-Vai), com o apresentador Raul Gil e com dona Iracema, 85 anos, a miss terceira idade de São Paulo. Como madrinha do concurso a atriz global Karina Bacchi, como fecho de ouro da noite um eletrizante Fábio Jr., que levantou (e misturou) a galera das presas e a galera de jurados e convidados. Há quem critique a iniciativa do concurso, e a crítica começa na mídia quando se identificam essas presidiárias pelos crimes que elas cometeram. Como já foi dito, lá havia mulheres que algum dia não foram modelos de comportamento, mas toda mulher, malandra ou não, merece pelo menos um dia de feminilidade. Expor-se ao sol num maiô ou rodar exuberante dentro de um vestido.