A CPI do Banestado, instalada para apurar a evasão de US$ 30 bilhões – denunciada por ISTOÉ numa reportagem de capa da edição de 5 de fevereiro de 2003 –, vai acabar de maneira melancólica e sem resultados concretos. Na quarta-feira 24, depois de seis meses sem nenhuma reunião ou nova investigação, a comissão só conseguiu se reunir para decretar o próprio fim. Pelo calendário aprovado por deputados e senadores, no dia 7 de dezembro o relator, deputado José Mentor (PT-SP), irá apresentar um relatório com as apurações desenvolvidas até aqui e depois não se fala mais em CPI do Banestado. A pizza começou a ser preparada na última semana, quando os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), se reuniram com o relator e o presidente da Comissão, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), para ensaiar os primeiros acordes do réquiem das investigações. Desta forma, a extensa lista de empresários, políticos e doleiros investigados pela CPI por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão fiscal terá um refresco com a morte anunciada das investigações. Um dos que podem comemorar é o ex-presidente do PSDB de Minas Gerais, o deputado federal Vitório Mediolli. Na última semana o Ministério Público enviou à CPI uma movimentação de US$ 995 mil feita em nome de Mediolli pela offshore Beacon Hill. As operações via Beacon Hill levaram mais de 60 doleiros à prisão na Operação Farol da Colina.

Toda a papelada, incluindo quebra de sigilos fiscais, bancários e telefônicos de mais de duas centenas de pessoas, será encaminhada ao Ministério Público e à Polícia Federal, que mantêm uma força-tarefa investigando a roubalheira drenada para fora do País através do esquema Banestado. Nos últimos meses, a Comissão se transformou em palanque de denúncias de chantagem e troca de acusações sobre uso político das informações sigilosas em poder da CPI. Na última tentativa de tocar adiante as apurações, o presidente e o relator voltaram a divergir sobre as prioridades da investigação. O tucano Antero Paes de Barros insistiu na convocação dos ex-colaboradores do governo Lula, Cássio Casseb (ex-presidente do Banco do Brasil) e Luiz Augusto Candiota (ex-diretor de política monetária do BC), além do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que fizeram transações financeiras com bancos no Exterior sem declarar à Receita, conforme foi também denunciado por ISTOÉ. Mentor bateu pé no aprofundamento das investigações em torno de Gustavo Franco (presidente do BC na era Fernando Henrique) e de José Arcanjo Ribeiro, tido como o maior lavador de dinheiro de Mato Grosso e que teria relações com o ex-governador do Estado Dante de Oliveira (PSDB). É. Realmente, muita gente vai vibrar com o fim da CPI.