Cinco meses depois de entrar no ar, a campanha “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, criada para resgatar a auto-estima dos brasileiros, é um tremendo sucesso. Os comerciais veiculados nas emissoras de televisão que traziam o jogador Ronaldo (fenômeno), o cantor Herbert Viana e o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima ganharam em pouco mais de três semanas de exibição o quarto lugar entre os mais lembrados no País, de acordo com o Instituto Datafolha. A exposição das peças na mídia eletrônica e os espaços cedidos voluntariamente pelos diversos veículos de comunicação somaram cerca de R$ 50 milhões. Mas o mais impressionante foi a adesão das empresas de praticamente todos os segmentos econômicos. Pelos números da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), uma das idealizadoras do movimento, mais de 100 companhias de todos os tamanhos passaram a utilizar em sua comunicação a logomarca da campanha. Sem contar os milhares de manifestações voluntárias de cidadãos comuns elogiando a iniciativa e se identificando com o sentimento de brasilidade proposto pela campanha.

Todo esse sucesso está garantindo a segunda fase do movimento, que começa com o lançamento de um livro com os perfis de 100 brasileiros ilustres, organizado pela Biblioteca Nacional, e continua com mais três filmes para a televisão. Desta vez, as personalidades (Ronaldinho e cia.) dão lugar a pessoas comuns que conseguiram vencer na vida graças à crença em si mesmas e no País onde vivem, como Roberto Carlos Ramos, um ex-interno da Febem que foi adotado por uma professora francesa, reabilitou-se, formou-se em pedagogia e hoje cuida de 12 crianças. Já Maria José Bezerra, moça pobre do Recife, que fugiu de casa para evitar a violência paterna, conseguiu sem nenhum recurso formar-se em história, ficou cega de um olho e, apesar da grave doença, lupus, reverteu a cegueira, fez mestrado e, agora, cursa doutorado. O terceiro personagem é um simpático faxineiro do aeroporto de Brasília. Conhecido como Chico Brasileiro, ele achou uma bolada em dinheiro no aeroporto, mas devolveu-a intacta ao dono.

Os comerciais que mostram a vida simples de pessoas comuns que enfrentaram dificuldades para conseguir um lugar ao sol são a parte mais visível do movimento. Mudar o humor da população é uma tarefa mais complicada, que exige tempo e paciência. Por isso, a campanha quer dar uma guinada com o livro 100 brasileiros, que reforça a crença na capacidade do Brasil de vencer e superar grandes desafios. Em síntese, a publicação traz dois conceitos centrais: uma nação não pode ser verdadeiramente forte se não acreditar em si mesma; e os nossos talentos, homens e mulheres que contribuíram para a vida política e enriqueceram a vida cultural-artística, merecem ser conhecidos. Em breve, a vida das personalidades do mundo das artes, dos esportes, da cultura e de outros setores estará estampada em talões de cheques, vales-restaurante e em um livro especialmente dedicado às crianças, que terá ilustrações do cartunista Ziraldo.

O embrião da campanha “O melhor do Brasil é o brasileiro” nasceu na Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica no primeiro semestre do ano, época em que o governo enfrentava dificuldades para convencer, apesar do bom momento econômico, que o País estava preparado para um período de crescimento. A estratégia do ministro Luiz Gushiken era, primeiro, casar o conceito de crescimento da economia com as campanhas publicitárias das empresas estatais. “Precisávamos passar a idéia de crescimento sem usar a imagem do governo. E nada melhor que as empresas para fazer isso”, contou Gushiken. Além das estatais como os Correios e o Banco do Brasil, os bancos Bradesco e Itaú, a operadora Telemar e o Sebrae também aderiram à idéia. Daí para chegar à campanha de resgate da auto-estima do brasileiro foi um passo. Com a ajuda da ABA e da agência Lew, Lara, responsável pela criação das peças publicitárias, e apoio de pesquisas que mostravam o grau de inferioridade dos brasileiros, o movimento ganhou corpo e um slogan: “O melhor do Brasil é o brasileiro”, extraído da obra do folclorista Luís Câmara Cascudo (1898-1986). Agora, aprimorar o resgate da nossa auto-estima é uma questão de tempo.