O dentista Germano Rigotto, 55 anos, governador do Rio Grande do Sul, bota a boca no trombone. Elogia a política econômica, mas lidera a ala mais aguerrida dos peemedebistas que quer ver o partido fora do governo. Na hora em que o presidente Lula briga para abrir espaços ao PMDB, Rigotto parece estar na contramão, pois defende que já passou da hora de o PMDB largar o osso:

ISTOÉ – Por que o PMDB é tão complicado?
Germano Rigotto –
Curiosamente, com mais de mil prefeitos, seis governadores, a maior bancada do Senado e a segunda maior da Câmara e mais de 16 milhões de votos, o PMDB não é tido como alternativa para 2006. Porque é um partido sem projeto nacional, sem bandeiras, sem cara própria, com o carimbo do fisiologismo e do clientelismo. Sou o maior interessado na governabilidade, mas para isso não preciso de mais espaço em governo.

ISTOÉ – O PMDB não está blefando para ganhar mais cargos?
Rigotto –
O PMDB precisa se livrar do fisiologismo. Se na convenção do dia 12 tivermos a maioria, isso significa deixar cargos no governo. O PMDB poderá até perder quadros, mas não acredito que isto seja ruim para o partido.

ISTOÉ – E se vocês perderem na convenção?
Rigotto –
Não penso na derrota. Aquilo que defendemos tem uma força muito
grande na base do PMDB. Nossas análises mostram que temos maioria.

ISTOÉ – A cúpula está trabalhando para não ter convenção…
Rigotto –
Ela está convocada por edital, não existe possibilidade de não
haver. A convenção vai sair.

ISTOÉ – O presidente dos Correios, João Henrique, foi nomeado pelo presidente Michel Temer, que defende o rompimento. Por que ele continua no cargo?
Rigotto –
Esta pergunta deve ser feita ao Temer. A partir da convenção teremos uma realidade nova. Uma decisão será tomada e ela terá que ser seguida por todos.

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ISTOÉ – É estranho que a pessoa que coordena este movimento mantenha
cargos no governo….
Rigotto –
Eu disse ao Lula, logo após minha eleição: “Presidente, não entre
nessa de buscar o apoio do PMDB em troca da participação do PMDB no governo. Não será bom para o governo, nem para o PMDB.” O tempo mostrou que eu
estava correto. Daria o mesmo conselho hoje.

ISTOÉ – Quem não sair voluntariamente deverá ser expulso?
Rigotto
– No momento em que a convenção toma uma decisão e os filiados não acatam, eles estão automaticamente deixando o partido.

ISTOÉ – Isso vale para os dois lados. Se os governistas ganharem….
Rigotto –
Nós não temos cargos no governo. Vou aceitar a decisão da maioria, mas não vou deixar de dar minha opinião sobre o PMDB. Isso é muito diferente de quem tem cargo no governo. Quem não sair deve ser afastado do partido.

ISTOÉ – Lula é imbatível em 2006?
Rigotto –
Não tem ninguém imbatível, nem Lula. Tenho consciência de que dois anos é muito tempo para mim, o Alckmin, o Aécio, o Luiz Henrique, o Requião, qualquer governador ou candidato em 2006. Hoje Lula seria franco favorito. Se for daqui a dois anos, este quadro muda muito.

ISTOÉ – O governo desgasta?
Rigotto –
Existem dois problemas no governo. O tamanho excessivo do Ministério e a demora para que uma decisão tomada se transforme em ação. Acho que isso tem a ver com o assembleísmo que marca o PT. Numa orquestra, por que ter cinco tocando violoncelo quando se pode ter três?

ISTOÉ – Esta briga entre os ministros Antônio Palocci e José Dirceu agrava
os problemas?
Rigotto –
Se existe briga é entre os dois melhores nomes que tem o presidente Lula. Palocci fazendo tudo certo em termos de política econômica e Dirceu sendo a pessoa de maior capacidade para a articulação política e o controle gerencial do governo. Pode-se manter os fundamentos da economia, mas não é preciso enfraquecer a Federação. Sabe o que disse o presidente Lula na reunião com os prefeitos do PT? Disse que o governo fez a reforma tributária e agora cabe aos governadores fazer a sua parte. Um pequeno erro do presidente: não houve reforma tributária. O que aconteceu foi mais um remendo fiscal.

ISTOÉ – O Ministério de Lula está afinado?
Rigotto –
Esta orquestra tem músico demais, músico batendo cabeça, sobrando. Em vez de sinfônica, poderíamos ter uma orquestra de câmara, tocando afinada.

ISTOÉ – A política do Palocci incomoda parte do PT…
Rigotto –
Será que um superávit superior ao acertado com o FMI tem lógica agora? Um superávit um pouquinho menor não significaria mais emprego, mais renda, mais desenvolvimento? Os atuais indicadores econômicos positivos permitem ao governo, agora, ousar um pouco mais. Basta soltar alguns freios com responsabilidade, sem populismo e sem demagogia.

ISTOÉ – Cumpridas as etapas de resgate do PMDB, o sr. é candidato a
presidente em 2006?
Rigotto –

Não é hora de falar em nomes. Antes, o PMDB tem 2005 para recuperar o que perdeu. A partir daí vai escolher seu candidato. Fico feliz que meu nome, entre outros, tenha sido citado. Esta questão fica para 2006.


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