É impossível contemplar uma foto de Marc Ferrez (1843-1923) sem pensar em como deve ter sido maravilhoso viver no século passado. A sensação se deve, em grande parte, à capacidade do fotógrafo de aprimorar esteticamente o espaço urbano. Praças, enseadas, baías, avenidas, seja o que for, tudo se reveste de uma impressionante luminosidade e parece eternizar um tempo feliz. O Brasil de Marc Ferrez, em cartaz no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, é uma boa oportunidade de entrar neste túnel do tempo. São 300 fotos e 150 imagens na programação multimídia, sendo 40% deste material sobre o Rio de Janeiro e seu entorno. Carioca descendente de franceses, Ferrez “transformou a cidade na meca da fotografia internacional”, segundo o curador Antonio Fernando De Franceschi. “No arquivo do IMS, temos 5.500 imagens diferentes e quatro mil negativos em vidro – metade é dedicada ao Rio e seus arredores”, diz.

Franceschi lembra que nas décadas de 1870 e 1880 o Rio foi a segunda cidade mais fotografada do mundo, perdendo apenas para Paris. As belezas naturais
que tanto encantavam profissionais de todas as partes estão reproduzidas nas
fotos de Ferrez com as melhores técnicas disponíveis até então. Atento ao desenvolvimento tecnológico e estético da fotografia – ao qual, na verdade, está intimamente ligado –, ele foi pioneiro no uso de engenhocas que forneciam
cenas panorâmicas entre outras novidades, como revelar suas imagens em
papel colorido. Nos últimos anos de vida, já começava a trabalhar no cinema, resultado natural de um obsessivo da imagem.

A mostra poderá ser vista pelo público brasileiro até 23 de outubro e seguirá, depois, para o Museu Carnavalet, em Paris, dentro da programação oficial do Ano do Brasil na França. Também está sendo lançado um livro homônimo, com 160 belíssimas fotos (IMS, 320 pags., R$ 128). Ferrez nunca teve estúdio, mas possui muitos registros em close de negros, brancos, índios e escravos das mais distantes partes do País. Sua preocupação antropológica fica clara em imagens nas quais ele tem o cuidado de colocar, ao lado da pessoa, objetos, como fita métrica, que pudessem servir de referência para dimensionar um povo.