O caipira de fala arrastada, chapéu de palha, calças curtas e botina suja foi imortalizado no cinema pelo comediante Amácio Mazzaropi e seu célebre personagem, o Jeca Tatu, que apareceu em filmes como Jeca Tatu (1959), A tristeza do Jeca (1961) e Jeca contra o capeta (1975). Mazzaropi, o criador, costumava definir a criatura como “o herói caboclo do Brasil do século XX”. Coincidência ou não, dois atores mergulharam fundo no universo do personagem para compor matutos que estão rendendo boas risadas em novelas globais. Emilio Orciollo Netto vive o marrento Crispim, em Alma gêmea, enquanto Matheus Nachtergaele ganha popularidade junto ao público infantil com seu Carreirinha, em América.

Orciollo Netto conta que foi orientado pelo próprio Walcyr Carrasco, o autor do folhetim das 18h, a assistir os filmes de Mazzaropi para criar Crispim, o capiau que morre de ciúme da irmã caçula, Mirna, interpretada pela atriz Fernanda Souza. “Moça nova é igual porteira: se abre, passa a boiada inteira”, costuma bradar o personagem, que tem como marca registrada o bordão “Ô Miiiiiiiirna!” Paulistano e “urbanóide”, segundo sua própria definição, Orciollo explica que também freqüentou as pracinhas de Capivari, cidade no interior de São Paulo onde nasceu sua avó materna, para “extrair elementos da vida na roça”. “Também tive aulas de prosódia por dois meses para aprender falar como caipira”, explica.

As raízes familiares também ajudaram Matheus Nachtergaele na composição do peão Carreirinha, de América. “Na minha infância, eu ia muito para um sítio em Atibaia e sempre observava o modo como as pessoas falavam”, relembra ele. Segundo o ator, a figura de Mazzaropi estava muito viva quando foi escalado pela autora Glória Perez. “Eu tinha acabado de gravar o filme Tapete vermelho, em que interpreto o caipira Quinzinho, inspirado em Mazzaropi. O Carreirinha é um Jeca Tatu dos rodeios”, diz. Inconseqüente e encrenqueiro, Carreirinha logo ficou popular entre as crianças a ponto de a autora mudar os rumos do personagem. “Estava planejado que o Carreirinha teria problemas de alcoolismo, mas, como o público infantil se identificou com ele, não seria bacana que a doença ficasse em destaque”, revela Nachtergaele. Nada de tristeza para o Jeca.