Difícil encontrar um brasileiro que desconheça a escultura Os candangos, bronze que decora a Praça dos Três Poderes em Brasília. Mas poucos são capazes de nomear o autor, Bruno Giorgi (1905-1993), que foi considerado, na década de 50, um dos cinco maiores escultores do mundo. A exposição Bruno Giorgi (1905-1993), em cartaz na Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, mostra a força artística do paulista ao reunir o que há de mais representativo em seu trabalho. Com 80 obras em madeira, mármore, pedra-sabão e terracota, além de esboços, estudos e uma pintura, a mostra, que comemora o centenário de nascimento deste fundador da moderna escultura no Brasil, também reproduz a sala e o estúdio da casa de Giorgi, em Petrópolis, na região serrana fluminense.

O maior impacto é a sala de mármores, material dileto do escultor. “Quando vejo uma pedra de mármore, tenho vontade de tirar o chapéu”, diz ele numa entrevista antiga, que pode ser vista na mostra. O público, se usasse chapéu nos dias de hoje, certamente faria o mesmo diante de alguns trabalhos, como o reluzente Atleta, peça em mármore negro da Bélgica que nunca tinha sido exibida antes. Mas é na sala de bronzes que estão os trabalhos mais populares, como as maquetes de Os candangos, Condor (que está na Praça da Sé, em São Paulo), São Bento (no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro) e Monumento à juventude brasileira, saudado por Mário de Andrade como “grupo de beleza admirável”, e que pode ser visto em três versões.

O ateliê cenográfico é um convite à intimidade da criação e um testemunho de um tempo em que as técnicas eram mais rudimentares. Sobre uma mesinha, reprodução de uma bandeja com biscoitos de maisena, uma xícara de café e um cigarro em brasa no cinzeiro – combustíveis essenciais para as noites de criação ininterrupta. A exposição está documentada em duas versões – brochura e capa dura – de um livro sobre o escultor, editado pela Pinakotheke, com prefácio do poeta Ferreira Gullar. Amigo de Giorgi por décadas, Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke, dá um conselho ao público: “Toquem as peças. A obra de Bruno Giorgi é para ser sentida também.” A dica vale para Nu feminino, em mármore carrara, cujas costelas são quase imperceptíveis aos olhos. Mas não ao toque.