O IBGE ainda não mediu, os hospitais não fizeram estatísticas, mas quem constatou o fato foram as clínicas de reprodução humana: cresce o número de pais acima dos 50 anos. Na grande maioria dos casos, os homens, em segundo ou terceiro casamentos, tentam a fertilização in vitro depois de terem se submetido a vasectomias – cirurgia que interrompe o fluxo de espermatozóides. A diferença de idade entre os novos casais muitas vezes gera situações inusitadas. O ator carioca Antonio Pedro, casado pela terceira vez com a atriz Andrea Bordadagua, que tem a metade de seus 64 anos, cedeu ao desejo da mulher e vai ser pai no mês que vem. O curioso é que sua filha Alice acaba de lhe dar o primeiro neto, Pedro Luiz, com poucos dias de vida. “Meu último bebê nasceu há 35 anos”, lembra o ator, feliz com a nova produção. Quando se submeteu a um espermograma, as perspectivas não eram favoráveis: “Oitenta e cinco por cento dos caras dormiam, 10% não sabiam para onde ir e só 5% iam para o lugar certo.”

Antonio Pedro não disfarça o orgulho pela competência desses 5%, que acertaram a mira e evitaram que ele desembolsasse muito dinheiro para ser pai. O tratamento custa em média R$ 45 mil. Depois de morar dois anos com a nova companheira, achou que era hora de satisfazer o anseio dela de ser mãe, ao mesmo tempo que sentia vontade de voltar a ser pai. “Vou ter que viver no mínimo mais 25 anos para acompanhar a criança”, festeja o ator, enquanto saboreia o nascimento do primeiro neto de sua lavra. Já tinha netos de dois enteados.

Outro ator que vive, em parte, o mesmo processo é Antonio Carlos Pereira, o Tonico. Aos 57 anos, acaba de ser pai de um casal de gêmeos. Seu primeiro filho nasceu quando ele tinha pouco mais de 20 anos, teve um segundo com a primeira mulher, se separou e agora voltou a se juntar – em casas separadas – com a bailarina Marina Salomon, 40 anos, mãe de seu terceiro filho. Mas vive na casa de Marina, lambendo as crias. Nesse caso, foi ela quem recorreu a tratamento para engravidar. “Tonico tem mais calma para ser um pai mais presente, porque já está profissionalmente resolvido”, diz Marina. De certa forma, a experiência mostrou ao ator que faltava maturidade na primeira safra. “Hoje me sinto até meio culpado, porque cuidei menos dos dois primeiros. Ter filho a essa idade é rejuvenescedor”, exulta.

Para o médico psicanalista Luiz Alberto Py, o que Tonico Pereira sente pode ser comum em qualquer homem que encare a aventura de ser pai tardio. Para animar os hesitantes, costuma citar o exemplo do físico inglês Isaac Newton (1643-1727), cujo pai já tinha morrido quando ele nasceu. O próprio Py serve de exemplo para os clientes. Teve um filho do segundo casamento aos 58 anos e outro três anos depois. “Ilumina, a vida ganha um colorido”, descreve. Assim como Tonico, o psicanalista percebeu que foi um pai ausente em seu primeiro casamento, que durou de 1966 a 1982. Na época, estava mais preocupado em se firmar profissionalmente e delegou a criação dos filhos à mulher. “Quando nos separamos ela disse que se sentia uma viúva de marido vivo.” Py se casou de novo aos 48 anos com uma mulher de 19, que teve de se submeter a tratamento para engravidar. Voltou a se separar, mas nem por isso deixa de acompanhar de perto os dois pequenos. “Quanto mais estou com eles mais sinto minha alma alimentada”, descreve o psicanalista, que também curte os sete netos de idades semelhantes à dos dois caçulas. “Lá em casa fica um bololô de crianças”, diverte-se.

Segundo o urologista paulista Sidney Glina, o que acontece com Antonio Pedro, Tonico Pereira e Py está ao alcance de qualquer um. “O homem saudável produz esperma até morrer”, afirma. O comportamento mais freqüente em seu consultório é o do homem casado, com filhos, que se submete à vasectomia, se separa, casa de novo com uma mulher mais jovem, que depois quer ter filhos. “Como o índice de separações é cada vez maior, o comum são homens mais velhos que procuram mulheres mais novas e essas desejam ter filho”, confere. Mas ao invés de tentar reverter a vasectomia, que é um processo mais agressivo, os homens preferem a fertilização in vitro”, explica o especialista Isaac Yadid, da clínica Hundington. O engenheiro carioca Marcos Mattos, 45 anos, está em pleno tratamento. Ele fez uma vasectomia logo que se separou do primeiro casamento, que lhe deu um filho, hoje com 19 anos, mas mudou de opinião no segundo casamento, com Marcilene, 33 anos. “A reversão da vasectomia pode não dar certo, optamos pela fertilização. Em duas semanas faremos o implante”, diz. O médico carioca Marcello Valle, da Clínica Origen, recorre ao tratamento em 95% dos homens mais velhos que o procuram. Ele explica que nos primeiros cinco anos a chance de ter um filho após a vasectomia é de 70%. Passados dez anos é de 20%.

O especialista Luiz Fernando Dale, da Clínica Dale, observa que uma minoria de homens sofre de alguma patologia – talvez decorrente de stress, fumo, poluição e bebidas alcoólicas –, que reduz a produção de espermatozóides. “O número de homens inférteis hoje é maior do que no passado. Antes, 10% dos casais tinham problemas, hoje são 15% a 20% que buscam ajuda”, contabiliza. Mas impressionante é a história do piauiense Ribamar Rodrigues, 65 anos. Ele foi casado durante 20 anos e teve um casal de filhos, um homem hoje com 38 anos e uma mulher com 34. Há dez anos, Ribamar se casou novamente. Teve com ela um menino, oito anos, e uma menina, recém-nascida. O piauiense é mais que um exemplo de pai-avô. Sua filha de 34 anos já lhe deu duas netas e uma delas está grávida de um menino, que nascerá em outubro. Vai ser um pai-bisavô. “É uma bênção de Deus”, define Ribamar, que é servidor público, mas não quer se aposentar. “Não quero ficar sentado em praça jogando cartas”, justifica.

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