Tudo indica que as empresas aéreas seguidoras do modelo americano low-cost low-fare (custo baixo e tarifa baixa) vieram para ficar. Quatro novas companhias aéreas acabam de entrar no cenário das linhas regulares e prometem acirrar a disputa com a Gol – a pioneira do sistema. Outras sete estão aguardando registro no Departamento de Aviação Civil (DAC) para decolar. A Webjet – que pertence a um grupo de cinco investidores, com aportes totais de R$ 10 milhões – chegou com um avião Boeing 737-300, de 148 lugares, e está operando vôos para Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Porto Alegre desde o dia 12 de julho. “Para simplificar e não confundir a cabeça do usuário, haverá apenas uma classe tarifária em cada vôo e o preço do bilhete pode variar conforme a demanda”, explica Rogério Ottoni, 40 anos, presidente da companhia. A sua expectativa é de transportar 500 mil passageiros no primeiro ano, com outros destinos que serão abertos, e faturar R$ 120 milhões. A Team, no mercado desde 2001 realizando vôos charter (fretados), estreou na segunda-feira 1º, seus primeiros vôos regulares entre Rio de Janeiro e Macaé. A companhia começou com um avião e hoje tem três aeronaves turbo-hélices da tcheca Leth, L-410, de 19 lugares. “A meta agora é ultrapassar os cinco mil passageiros e continuar crescendo”, diz o comandante Antônio Savio, diretor de operações. Já a BRA e a TAF-Linhas Aéreas assinaram contrato de concessão com o DAC na quarta-feira 3 e se preparam para voar regularmente.

Com sede em Fortaleza (CE), a TAF começou a operar em 1957 como empresa de táxi-aéreo. Hoje tem quatro Boeings (um 727-200 e três 737-200), com capacidade para transportar 109 passageiros, e realiza vôos charter para Fortaleza, Belém, Manaus, Macapá e Guiana Francesa. De janeiro a julho deste ano, já transportou 25 mil passageiros e dentro dessa nova modalidade quer fechar o ano com 40 mil. “Vamos unir o Nordeste ao Norte do Brasil”, afirma Ariston Filho, diretor comercial da TAF. Ele diz que o setor está vivendo um bom momento e que a estabilidade da moeda favoreceu a ampliação dos negócios e o crescimento do setor. A companhia começará a operar de modo regular em setembro. Com uma frota de nove aviões, a BRA voa para mais de 30 cidades, a maioria na região Nordeste. No ano passado, foram transportados 1,5 milhão de passageiros e a meta é transportar 1,7 milhão de pessoas. Para tanto, vai ampliar a frota com mais seis aparelhos. A Samba Brasil – projeto da agência de turismo CVC – é uma das sete empresas que estão aguardando o registro no DAC.

Expansão – Dos 180 milhões de brasileiros, cerca de 6% utilizam o transporte
aéreo. Ao todo, são 32 empresas voando nos céus do Brasil. O movimento de passageiros – nacionais e internacionais – continua em expansão. De acordo
com levantamento do DAC, foram transportados em junho deste ano nas linhas nacionais 2,5 milhões de passageiros, contra 2,1 milhões no mesmo período do
ano passado. As viagens aéreas ao Exterior levaram 1,9 milhão de pessoas, 100
mil a mais que em junho de 2004. Pelos cálculos do sargento Elon Nascimento,
do DAC, o setor doméstico transportou nos primeiros seis meses deste ano 4,3 milhões de passageiros. Desse total, 42,68% viajaram pela TAM; 28,74% pela
Varig e 26,02% pela Gol. O domínio das grandes companhias chega a 97% dos passageiros transportados no País.

“O setor cresce dois pontos acima do PIB”, contabiliza o comandante Ronaldo Jenkins, assessor da presidência do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA). No ano passado, foram transportados 34 milhões de passageiros – 29 milhões em vôos domésticos e cinco milhões em vôos internacionais – e a receita bruta chegou a R$ 9,7 bilhões. A participação do transporte aéreo no PIB gira em torno de US$ 18 bilhões, ou quase 3% do PIB nacional. Segundo Jenkins, o setor exige altos investimentos e a lucratividade é de 3%. Sobre os que estão entrando no mercado, o comandante é enfático: “Se entrar com capital forte e disposto a se estabelecer, será uma Gol da vida. Mas, se não tiver condições de suportar os altos custos, que em geral são em dólar, acabará quebrando.” Márcio Marcillac, vice-presidente da Associação dos Pilotos da Varig (Apivar), considera positiva a concorrência. Mas ressalta: “O que vamos ter com essa enxurrada de empresas é um desequilíbrio do sistema, da lucratividade e da rentabilidade das empresas.” Rogério Ottoni, da Webjet, pensa diferente: “O sistema low-cost low-fare é uma tendência no mundo. Estamos gerando receita. Não sei quem vai quebrar ou não, só se tivesse bola de cristal. Conhecemos os riscos e estamos fazendo algo positivo. Não importa se teremos 1% ou 4% do mercado. O que importa é operar de forma saudável e seguir em frente.” Boa viagem.


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